Título: GOVERNO FOI ALERTADO SOBRE RISCO DE AFTOSA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 28/10/2005, Economia, p. 24

Aviso enviado antes do surgimento de focos pedia atenção a contrabando

CAMPO GRANDE, SÃO PAULO e BRASÍLIA. O governo federal havia sido alertado, três meses antes do surgimento do primeiro foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, sobre a urgência de intensificar a fiscalização na área de fronteira com o Paraguai para coibir o contrabando de animais. No fim de junho, o governo do estado enviou documento ao Ministério da Justiça avisando sobre esse problema e até sugerindo o uso de aeronaves apreendidas com traficantes para vigiar a fronteira.

Já a União Européia (UE) - com 25 países e principal cliente do Brasil - comunicou ao Brasil ontem, segundo fontes do Ministério da Agricultura, que manterá por pelo menos 200 dias (quase sete meses) o embargo à carne bovina de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Este é o prazo que as autoridades européias acreditam ser necessário para garantir que a doença seja debelada, considerando-se o tempo de incubação do vírus. No fim desse período, uma missão virá ao Brasil verificar se a doença foi erradicada para, então, retirar o veto.

Num dos trechos do documento enviado ao Ministério da Justiça, o governo de Mato Grosso do Sul advertia que o contrabando de bovinos no país vizinho implicava riscos para além do aspecto criminal, "mas principalmente no aspecto econômico, com a possibilidade de travar as exportações", referindo-se à possibilidade do surgimento de focos de aftosa.

A fiscalização aérea da fronteira entre Brasil e Paraguai só é feita quando há operações conjuntas entre as polícias do estado e outras instituições, como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Exército. Numa dessas operações, as Forças Armadas chegaram a fazer um mapeamento das rotas utilizadas por traficantes de drogas e contrabandistas de animais. Mas as informações nunca foram aproveitadas com a devida atenção.

Em São Paulo, a Força Sindical reuniu ontem cerca de quatro mil pessoas em um churrasco. Foram assadas 12 toneladas de carne doadas por frigoríficos de Santa Fé do Sul, Barretos e Campinas, no interior paulista. Hoje, a entidade promete doar mais cinco mil quilos a quem passar pela Praça da Sé, no Centro.

- Queremos mostrar ao mundo que a carne é boa - disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.

Organizado na sede da própria entidade, o churrasco foi oferecido a desempregados. O tom de protesto foi dado por faixas em inglês e português, segundo as quais a carne brasileira continua boa - "o governo é que está estragado".

Durante o evento, o secretário de Agricultura de São Paulo, Duarte Nogueira, endossou acordo fechado na semana passada entre a Força Sindical e os frigoríficos, que dá 30 dias de estabilidade no emprego.

(*) Especial para o GLOBO

Legenda da foto: CHURRASCO À aftosa: "Carne é boa, governo é que está estragado"