Título: LULA FESTEJA RESULTADOS DA ECONOMIA E COMETE GAFE AO CRITICAR PESSIMISTAS
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 28/10/2005, Economia, p. 27

Presidente diz que não muda política cambial e que não fará mágicas em 2006

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abusou das metáforas e dos improvisos no discurso em que festejou os resultados da política de turismo de seu governo e o atual momento da economia brasileira, que classificou como o de uma "conjunção de fatores dando certo". Lula participou no Rio da cerimônia de abertura de 33º Congresso Brasileiro de Agências de Viagens e Feira das Américas, no Riocentro, e afirmou que não vai mudar a política cambial nem fará mágicas no ano eleitoral de 2006.

Em quase 40 minutos de discurso, Lula voltou a criticar os pessimistas, como tem feito desde o início da crise política. Acabou cometendo uma gafe, ao usar otimismo, em vez de pessimismo numa frase - o erro foi corrigido na transcrição do discurso no site da Radiobrás. Lula louvava o sucesso da parceria entre setor privado, governo federal, estados e municípios, quando tropeçou:

- Sempre tem gente contra, porque pessimista você encontra em qualquer lugar do mundo. Estou ficando velho e estou aprendendo que a gente tem que levantar, todo santo dia, e fazer uma reza profunda para que a gente deixe o otimismo (sic) no banheiro, dê descarga nele logo cedo, e saia para a rua pensando coisas boas, porque aí elas acontecem.

O presidente se comprometeu com as metas ambiciosas para o turismo - uma delas é atrair nove milhões de estrangeiros ao país em 2007 - e defendeu a importância de o Brasil se mostrar no exterior:

- Os defeitos que nós temos, nossos competidores mostram. As virtudes que nós temos, nós temos que mostrar.

Lula disse que foi criticado por ter criado o Ministério do Turismo, mas garantiu que vai continuar investindo no setor:

- O Brasil é o único país capitalista do mundo em que as pessoas querem ganhar dinheiro sem investir. Então, nós temos que investir.

'Querem que o presidente diga o valor do dólar'

Lula prega paciência e diz que país pode ter expansão de longo prazo

Na longa cerimônia de abertura do congresso da Associação Brasileira dos Agentes de Viagem (Abav), o presidente Lula misturou ao texto escrito comentários improvisados. No fim do discurso, pregou paciência e disse que o Brasil há muitos anos não passava por um momento tão bom. Se a oportunidade for aproveitada, afirmou, o país entrará, definitivamente, num ciclo de crescimento sustentável de longo prazo:

- O Brasil nunca cresceu com inflação baixa, nunca conseguiu combinar a exportação com o crescimento do mercado interno. O que está acontecendo neste momento? Estamos crescendo com inflação baixa, exportando com o mercado interno crescendo; tendo superávit de conta corrente, crescimento da poupança interna, do crédito e das exportações.

O presidente também defendeu o regime de câmbio flutuante. Disse que sofre pressão dos exportadores pelo aumento do dólar e dos importadores, pela queda. Para Lula, a sociedade brasileira reivindicava a flutuação e o problema desse regime é que "ele flutua":

- As pessoas agora querem que o câmbio não seja flutuante, que o presidente diga o valor do dólar. Não vamos fazer isso.

Em seguida, o presidente lembrou do ano eleitoral e afirmou que não fará mágicas:

- No ano que vem tem eleições e, no Brasil, em todo ano eleitoral, o político é chegado a fazer loucura, é chegado a inventar, a criar mágica, quem sabe, vender ilusão temporária para a sociedade brasileira. Eu tenho dito isso em todos os lugares: não haverá mágica, não passarei para a História com a irresponsabilidade de que inventei mais uma mágica, que acabou quando eu deixei o governo e o povo pagou o pato.

Críticas à imprensa e a reportagens sobre o Rio

O presidente criticou a imprensa em duas ocasiões. Na primeira, disse que o Brasil passou da 21ª para a 14ª posição no ranking mundial de países que abrigam eventos internacionais. Para o presidente, se o país caísse uma posição a imprensa publicaria. Momentos depois, condenou as reportagens negativas sobre o Rio de Janeiro. A governadora Rosinha Garotinho e o vice-prefeito do Rio, Otávio Leite, também participaram da cerimônia. (Flávia Oliveira)

"Tem que fazer uma reza profunda para que a gente deixe o otimismo (sic) no banheiro, dê descarga nele logo cedo, e saia pensando coisas boas"

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Presidente da República