Título: UMA SOMBRA DISCRETA SOBRE A CASA BRANCA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 28/10/2005, O Mundo, p. 29

Promotor especial Patrick Fitzgerald tem fama de incorruptível e evita falar com imprensa

WASHINGTON. Patrick J. Fitzgerald costuma usar os elevadores de serviço dos tribunais e as portas dos fundos para entrar e sair - simplesmente para evitar os repórteres que, em especial nos últimos dias, têm aguardado por ele com ansiedade, muito embora o promotor não lhes dê informação alguma.

Ao contrário de seu colega Kenneth Starr - o promotor federal que fracassou na tentativa de obter o impeachment do então presidente Bill Clinton - Fitzgerald não dá entrevistas sobre os casos em que está trabalhando. E tampouco vaza informações confidenciais sobre eles a jornalistas.

- A sua mística atingiu proporções míticas simplesmente por sua virtude de manter a boca fechada até o momento em que tenha algo a dizer - disse a jornalista britânica Tina Brown, colunista do "Washington Post".

Investigação de dois anos deverá ser encerrada hoje

O promotor federal deverá encerrar hoje, depois de dois anos de trabalho, o processo de investigação sobre quem revelou à imprensa a identidade da espiã Valerie Plame, da CIA, a Agência Central de Inteligência - um procedimento ilegal. A expectativa é de que peça o indiciamento de altos funcionários da Casa Branca, possivelmente Karl Rove, o estrategista político do presidente George W. Bush, e Lewis Libby, chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney.

A revelação do nome da espiã, o que obviamente acabou com a carreira dela, teria sido uma vingança do governo contra o ex-embaixador Joseph Wilson, marido de Valerie. Ele criticou a decisão do presidente George W. Bush de declarar guerra ao Iraque, num artigo que escrevera para o "New York Times".

David Kelley, velho amigo de Fitzgerald e também promotor, definiu seu estilo e caráter com uma frase significativa, comparando-o ao lendário chefe da equipe de investigadores que capturou o mafioso Al Capone, em Chicago:

- Fitzgerald é um Elliot Ness com diploma de direito da Universidade de Harvard e senso de humor - disse ele.

Fitzgerald, que coincidentemente vive em Chicago, onde é o chefe dos promotores federais, é solteiro. E, aos 44 anos, tem fama de incorruptível, determinado, independente e destemido. Ele tem mostrado que não escolhe lados.

Embora venha sendo ultimamente fustigado pelos ultraconservadores do Partido Republicano por causa desse processo que pode cortar cabeças na Casa Branca, o promotor tem sido igualmente pressionado pelo Partido Democrata devido a uma investigação paralela de fraude e corrupção que vem fazendo, e que envolve o prefeito de Chicago, M. Daley.

Fitzgerald reagiu com tranqüilidade dias atrás, quando lhe perguntaram como se sentia diante do fato de alguns políticos da região estarem se esforçando para fazer com que ele seja transferido para outro estado:

- Eu simplesmente continuarei fazendo o meu trabalho até que o meu telefone toque e alguém diga que é para eu parar - disse ele. (J.M.P.)