Título: AVALIAÇÃO DA CRISE DIVIDE CIENTISTAS
Autor: Toni Marques
Fonte: O Globo, 29/10/2005, O País, p. 10

Anpocs discute o desencanto com o PT e os rumos da democracia no país

CAXAMBU (MG). Um dos debates da Anpocs, a ¿Crise e perspectivas da democracia no Brasil¿, tratou da crise do mensalão e mostrou divisão na academia sobre o desencanto sobre o PT e o ceticismo quanto aos rumos políticos do Brasil. Para Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais, há uma tendência à acomodação da crise política, o que beneficiaria o presidente Lula na tentativa de reeleição, mas tornaria seu segundo mandato difícil.

¿ É inaceitável tratar crime, especialmente o crime do caixa dois, como algo sem importância. Houve uma notável convergência. Lula falou disso naquela entrevista (concedida em Paris), e dali a pouco todo mundo estava falando disso. Isso sugere uma convergência que vai perigosamente no sentido de se acomodar. E trespassar a legalidade leva a coisas mais sinistras.

Para o professor Brasílio Sallum Jr., da Universidade de São Paulo, a crise é fruto, em boa parte, do próprio sistema político brasileiro, centralista e autoritário, do ponto de vista normativo, ¿um presidencialismo imperial¿, com partidos fracos, à exceção do PT. Por ser justamente o maior, o mais enraizado em movimentos sociais e o mais organizado burocraticamente, agiu no poder e na crise como ¿um elefante numa loja de louças em relação ao sistema¿.

¿ É um partido que contradiz um sistema que concebeu partidos fracos.

Para Luiz Werneck Vianna, o que está em vigor é a social-democracia paulista há 11 anos ¿ oito do governo de Fernando Henrique Cardoso e três do PT. Ele disse que PT e PSDB são ¿as duas torres gêmeas da política brasileira¿, em alusão ao World Trade Center, destruído nos atos terroristas de 11 de setembro. Para ele, no início do governo Lula ainda havia a esperança de que uma correlação de forças pudesse superar o impasse entre a política econômica toda-poderosa e os setores progressistas do governo e da sociedade, o que não aconteceu. No fim das contas, diz, o PT abraçou um projeto de poder pelo poder, como os demais. (T.M.)