Título: PT ameaça pedir cassação do tucano Azeredo
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 29/10/2005, O País, p. 11

Novo presidente petista defende medida mas bancada no Senado resiste dizendo que pode agravar a crise

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A executiva nacional do PT aprovou ontem resolução na qual pede para o senador Eduardo Azeredo (MG), ex-presidente do PSDB, o mesmo tratamento dado aos petistas ameaçados de cassação, recomendando que seja investigado pelo Conselho de Ética do Senado. Mas decidiu primeiro conversar com a bancada no Senado. Diante da pressão de parte dos senadores, o PT adiou a decisão de pedir a cassação de Azeredo.

¿ Não tem clima na bancada para pedir a cassação. Há muita divergência dentro e fora do PT ¿ disse a secretária de Formação Política, Marlene da Rocha.

Partido não quer impor nada aos senadores

Oficialmente, o partido diz que a direção já tomou a decisão de representar contra Azeredo, mas não quer impor nada aos senadores.

¿ Queremos discutir com os senadores. É o ambiente em que se vai discutir a cassação, e é necessário que nossa bancada tenha a mesma posição. Nossa postura é não impor posições por meio da executiva. Há posição na executiva favorável à representação ¿ disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini.

Segundo ele, se houver cassações na Câmara, o partido não poupará Azeredo:

¿ Aquele tratamento que for dispensado aos parlamentares na Câmara em relação a este tema deve também ser dispensado no Senado. Portanto, se houver cassação por caixa dois na Câmara, deve haver também no Senado.

Nos bastidores do partido, no entanto, comenta-se que o verdadeiro motivo da consulta à bancada no Senado é a disputa entre o senador Aloizio Mercadante e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy pelo direito de concorrer ao governo paulista em 2006. Os senadores temem que, além de não conseguirem votos suficientes para cassar Azeredo, podem ficar expostos a retaliações da oposição. Mercadante, na condição de líder do governo, seria um alvo preferencial.

A proposta de pedir imediatamente a cassação de Azeredo foi defendida na reunião da executiva por dois dirigentes ligados a Marta: Jilmar Tatto e Valdemir Garreta, ambos ex-secretários municipais e integrantes do grupo mais próximo à ex-prefeita.

O secretário-geral-adjunto, Joaquim Soriano, chegou a falar em ¿guerra contra PSDB e PFL¿. Berzoini e o secretário adjunto de Organização, Francisco Campos, foram contra a proposta do partido de pedir a cassação de Azeredo, que nem chegou a ser votada. Ao fim da reunião, Tatto, que entrou defendendo a representação contra Azeredo, parecia resignado.

¿ Não se trata de ¿decida-se¿. A vida não é assim. O posicionamento político está dado, Azeredo tem de ir para o Conselho de Ética. Agora tem que construir a posição em relação à cassação ¿ disse Tatto.

Para o secretário-geral do PSDB, deputado Bismarck Maia (CE), a situação do senador Eduardo Azeredo não pode ser comparada a de parlamentares petistas também envolvidos em esquemas de caixa-dois. Segundo ele, como Azeredo não ocupava cargo parlamentar à época em que disputou campanhas eleitorais (1998 e 2002), não pode ser submetido a um processo de investigação no Conselho de Ética.

¿ Os petistas, além de receberem na boca do caixa, estavam no exercício pleno de seus cargos. O PT quer fazer desse caso envolvendo o senador Azeredo o mesmo que aconteceu com os seus pares. Mas se eles querem discutir caixa dois, o melhor é aprovar uma CPI ¿ disse o deputado.

Já o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que o PT não tem autoridade moral para pedir que o senador Eduardo Azeredo seja investigado por caixa dois.

¿ O partido só teria autoridade moral se tivesse o mesmo procedimento em relação ao presidente Lula. A campanha de Lula foi contaminada por corrupção eleitoral, confessada pelo marqueteiro Duda Mendonça, pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto e pelo ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. Os irmãos do prefeito de Santo André disseram que Celso Daniel lhe disse, pouco antes de ser assassinado, que arrecadava dinheiro para sustentar as campanhas petistas. O ex-assessor do ministro Palocci Rogério Buratti confessou na polícia que dinheiro do jogo alimentou a campanha de Lula. Ou seja, sobram confissões para incriminar Lula. No caso de Azeredo, o crime já prescreveu, enquanto que no caso de Lula não ¿ disse Álvaro Dias.