Título: UMA VELHA CONHECIDA DA SAÚDE PÚBLICA EM SP
Autor: Célia Costa e Selma Schmiidt
Fonte: O Globo, 29/10/2005, Rio, p. 14
Doença matou 45 paulistas entre 2001 e 2005
SÃO PAULO. A febre maculosa é uma velha conhecida da saúde pública em São Paulo, que registra a doença desde 1929. Mesmo assim, em pleno século 21, 45 paulistas morreram da doença entre 2001 e 2005, a maioria por falta de diagnóstico rápido. Nos últimos 20 anos, de 163 infectados, 69 morreram. A febre maculosa não é difícil de ser tratada até o quarto dia da sua detecção, mas a demora para começar o tratamento é fatal, explica o professor titular de Infectologia da Unicamp Luís Jacintho da Silva, uma das autoridades nacionais no assunto.
¿ Como não há vacinas, temos feito esclarecimentos. Se há suspeita da doença, é preciso já tratar, antes mesmo dos resultados dos exames, porque a febre maculosa mata rapidamente e tem o sintomas semelhantes ao da dengue ¿ conta o especialista da Unicamp, considerada referência no tratamento da doença em São Paulo.
De acordo com Jacintho, não se pode dizer que São Paulo ou Minas tenham mais casos que o Rio de Janeiro ou outros estados. Segundo ele, estes são os estados onde o monitoramento e o conhecimento da doença são maiores. De modo geral, a febre maculosa tem atingido áreas rurais próximas dos centros urbanos em vários estados. Para ele, a causa está diretamente relacionada ao desmatamento e ao desequlíbrio ambiental.
¿ No Rio, por exemplo, a febre maculosa existe desde a década de 50. Mas desde a década de 80 há focos conhecidos, como na região de Barra Mansa. Os casos de Itaipava não são surpreendentes, porque a região tem condições ecológicas semelhantes às de Minas, Espírito Santo e São Paulo, que também são próximas ¿ explica o professor da Unicamp.
Em São Paulo, um dos principais fatores responsáveis pela proliferação da doença em cidades de maior porte, como Campinas (15 casos nos últimos sete anos), ou Piracicaba (oito casos) são as capivaras, que transportam os carrapatos. Com o desmatamento, esses animais passam a conviver até em rios poluídos como o Tietê, ou em parques públicos e campus universitários.
Em Piracicaba, há dois anos, logo depois de uma fase de proliferação de capivaras nas imediações do campus da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), vários acadêmicos foram contaminados e um professor morreu com a doença.
Nos últimos quatro anos, a doença passou a atingir moradores dos arredores da Grande São Paulo, como Mauá, Diadema, São Bernardo do Campo, Moji das Cruzes e a própria capital. Nessa região, a doença não era registrada desde 1950, mas voltou no século XXI. Segundo Jacintho, a proliferação dos carrapatos varia segundo fatores climáticos e ambientais.
¿ É um reflexo da expansão urbana, da redução das florestas, do descontrole. As capivaras, por exemplo, são protegidas, mas ao mesmo tempo ficaram sem casa. Por isto invadem as cidades ¿ disse Jacintho.