Título: PRÉDIOS NO LEBLON DERAM CERTO
Autor: Luiz Ernesto Magalhães
Fonte: O Globo, 29/10/2005, Rio, p. 19

Cruzada São Sebastião completa 50 anos hoje

Criada para ser o plano-piloto de um ousado projeto de Dom Hélder Câmara, que pretendia erradicar as favelas do Rio nos anos 50, a Cruzada São Sebastião, que hoje completa 50 anos, seguiu desde o início uma trilha contrária à de outros conjuntos habitacionais, que enfrentam o fenômeno da favelização. Diferentemente de outros moradores de favelas da Zona Sul, que foram removidos para conjuntos na Zona Oeste, quem vivia na comunidade da Praia do Pinto, no Leblon, se mudou para um dos dez prédios da Cruzada, numa das áreas mais nobres da cidade, na Avenida Borges de Medeiros, entre o Leblon e a Lagoa.

Mesmo esvaziado durante os anos de chumbo, o projeto de Dom Hélder manteve seu cunho social, permitindo o desenvolvimento de seus moradores, que, vivendo perto de seus empregos, puderam dar moradia digna e escola para seus filhos, já que junto com o conjunto habitacional foram construídas uma escola e creches, preocupação que não houve em muitos outros conjuntos. Também foi erguida a paróquia Santos Anjos, onde até hoje são realizados vários projetos de inclusão social e onde acontece hoje uma missa, celebrada por Dom Mauro Morelli, comemorando os 50 anos.

Atualmente, 910 famílias vivem na Cruzada, em apartamentos conjugados ou de um ou dois quartos. Os quatro mil moradores estão sendo cada vez mais inseridos na vida do bairro. Convênios entre a Arquidiocese, entidades, empresários e a PUC estão aumentando a oferta de empregos para a Cruzada. Um dos acordos fechados entre as associações de moradores do Leblon e da Cruzada São Sebastião e a Construtora Santa Isabel garantiu, inclusive, o aproveitamento de mão-de-obra para a construção do Shopping Leblon, que deverá ser concluído em outubro de 2007.

¿ Vão ser realizados cursos desde pessoal de limpeza até gerente de lojas. A idéia é inserir a Cruzada no bairro, de forma a reduzir a exclusão social, dar oportunidades para que seus moradores possam se desenvolver e assim evitar a favelização do conjunto, como já ocorre em outros locais ¿ disse o presidente da Associação de Moradores do Leblon, João Fontes.