Título: DÓLAR EM BAIXA, LUXO EM ALTA
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 29/10/2005, Economia, p. 29

Ajudados pelo câmbio, produtos como eletrônicos estão até 50% mais baratos

Os objetos de desejo estão mais baratos. Na lista de compras do consumidor sofisticado, alguns artigos se beneficiam com a baixa cotação do dólar ¿ no ano a moeda acumula queda de 14,69%. Já estão com preços até 50% mais em conta eletrônicos de primeira linha, como televisores de plasma, influenciados pela cotação da moeda americana e também pelos avanços da tecnologia. Carros importados já aparecem com descontos de 11%. E novas coleções de vestuário ¿ negociadas com dólar mais favorável ¿ também devem chegar com preços mais baixos.

A boa notícia, porém, não satisfaz a todos. A redução de preços favorece apenas 3% da população brasileira, com renda mensal acima de R$25 mil. É pouca gente, mas é a quantidade suficiente para fazer a alegria das lojas de luxo: o setor espera encerrar 2005 com US$2,5 bilhões em vendas.

Preços menores nas coleções de 2006

Os negócios na concessionária Gotland, na Barra da Tijuca, vão bem. Há três meses, a versão top do utilitário esportivo da Volvo, o XC90 V8, custava R$360 mil. Caiu para R$320 mil ¿ o mesmo valor de um apartamento de dois quartos na Zona Sul. A queda já foi de 11%, mas a expectativa é de que esse preço fique ainda menor.

¿ Concorrência e dólar levam o preço para baixo. No mês passado, vendemos um V8; este mês, três. As montadoras ainda têm estoques com custos altos em relação ao dólar. Nos próximos meses, essa queda do dólar influenciará ainda mais os preços das montadoras ¿ disse Manoel Fontes, gerente da concessionária. ¿ Em 2002, o dólar bateu R$3,85. As montadoras reajustaram os carros em 25%. Agora, a situação é oposta. Esperamos uma queda, assim como os clientes.

Que o dólar ajuda, ajuda, disse Silvio Passarelli, professor do MBA de Luxo da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Mas, acrescenta, o poder de compra desses consumidores está longe de estar em sua melhor forma: as estimativas do setor apontam que os gastos do ano representam somente 40% do potencial de consumo. E, por isso, a tendência é de crescimento. Em 10 a 12 anos, os endinheirados ¿ e chiques ¿ devem movimentar US$7,5 bilhões no ano.

¿ Há uma disseminação da cultura de luxo, que só cresce quando há investimento em educação e cultura. É isso que faz com que o mercado se fortaleça. Afinal, esse consumidor não precisa olhar o preço para saber se leva ou não o produto.

Na Brasif Shopping, alguns artigos tornaram-se mais acessíveis e a loja pôde ampliar a gama de produtos, disse Sherlon Adley, diretor da empresa. Ele cita os relógios: até junho, havia cinco marcas; hoje são 11 grifes de outros países nas lojas.

¿ Outro ramo que pôde ser incrementado foi o de eletrônicos, com os mp3 players e seus acessórios. Antes da queda do dólar, não se pensava em trazer esses produtos porque o preço não agradaria ao consumidor. Hoje, isso não só é possível, como tem trazido resultados maravilhosos nas vendas.

A menina-dos-olhos desse mercado é a moda ¿ que também agradece a temporada de dólar baixo. Ícone de luxo no Rio, a Clube Chocolate está importando novas marcas e espera vender em 2006 uma coleção outono-inverno com preços menores do que os de 2005.

¿ Vamos repassar todos os ganhos que conseguirmos com a moeda americana. Com isso, não só mantemos nosso cliente, como também formamos novos consumidores para a loja ¿ disse Duda Pereira, diretora de Marketing da Clube Chocolate.

Se as lojas aproveitam a farra, o consumidor não faz diferente. Atento ao dólar, o administrador Antonio Horácio dos Santos já coleciona alguns artigos de luxo, como perfumes de marcas como Bulgari e Paco Rabanne, além de máquina digital e iPod.

¿ Há um ano comprei uma televisão de plasma, que já teve queda de 50% graças ao dólar e à própria tecnologia. Hoje esse mesmo dólar permite que eu consuma produtos mais sofisticados ¿ disse Santos.

Os hábitos de quem tem renda alta foram alvo de pesquisa do Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar). Num estudo com 122 pessoas, 79% dos consumidores acham que luxo é comprar por impulso. Apenas 12,3% afirmam não irem ao teatro e 17,2% não vão ao cinema. Do total, 25,4% não freqüentam feira de antiguidades e 47,5% não vão a leilões de arte. Surpreende a informação de que 55,7% não vão a casas noturnas.

¿ Por mais que esteja no imaginário social que o consumidor de alta renda tenha hábitos muito excêntricos, não é verdade ¿ disse Luiz Paulo Lopes Fávero, coordenador da pesquisa pelo Provar.

NOVAS LOJAS OFERECEM REQUINTE INTERNACIONAL, na página 34