Título: BRASIL E EUA CRITICAM PROPOSTA AGRÍCOLA DA UE
Autor: Monica Tavares
Fonte: O Globo, 29/10/2005, Economia, p. 33

Redução média de tarifas do bloco seria de 47%, mas cálculos apontam corte real de 39%

BRASÍLIA, BRUXELAS e WASHINGTON. A União Européia (UE) propôs ontem reduzir suas tarifas sobre produtos agrícolas em 47%, em média, numa tentativa de pôr fim ao impasse nas negociações da Rodada de Doha. Mas a proposta foi criticada por Brasil e Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que, pelos cálculos do governo brasileiro, o corte, na verdade, seria de 39%. Amorim não quis admitir que o sucesso da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para dezembro, em Hong Kong, está comprometido, inviabilizando a Rodada de Doha. Mas reconheceu que o tempo está ¿cada vez mais curto¿.

¿ A Comissão (Européia, o órgão executivo da UE) foi até o limite ¿ disse a comissária de Agricultura do bloco, Mariann Fischer Boel.

Os cortes seriam divididos por grupos de produtos. As tarifas mais elevadas sofreriam reduções de 60% e as mais baixas, entre 35% e 60%.

Amorim: `Ninguém considerou proposta suficiente¿

O ponto central da Rodada de Doha é a redução das barreiras dos ricos aos produtos agrícolas dos países em desenvolvimento. Esta é a condição para que as nações mais pobres ¿ lideradas por Brasil, China e Índia no G-20 ¿ abram seus mercados de produtos industrializados e serviços.

¿ O sentimento é que o que está hoje sobre a mesa não é suficiente. Há muito trabalho a fazer. Claramente a pressão continua sobre a UE ¿ afirmou o chanceler. ¿ Ninguém considerou a proposta suficiente, esta é a minha leitura.

Segundo Amorim, o problema da proposta da UE é o fato de haver faixas com maior ou menor número de produtos. Se forem considerados os produtos um a um, o corte médio será de 39%, não de 47%. O ministro contou que os técnicos de EUA e Austrália chegaram ao mesmo número que o Brasil. A proposta do G-20 é de uma média de corte dos países desenvolvidos de 54%. Mas Amorim admitiu um avanço em relação à proposta anterior da UE, de 26%.

O Escritório de Comércio da Casa Branca divulgou nota expressando seu desapontamento com a proposta da UE. O texto reconhece que houve ¿um passo na direção certa¿, mas afirma que há muito mais a ser feito. E conclui que, sem avanços na área agrícola, a Rodada de Doha não poderá promover o desenvolvimento global.

¿ A proposta não é pegar ou largar. Estamos aos 38 minutos do segundo tempo e o placar continua indefinido, com a diferença de que todos podemos ganhar ¿ disse Amorim.

Ele lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou, no último dia 25, carta aos líderes da UE propondo a abertura aos produtos agrícolas dos países em desenvolvimento e garantindo que o G-20 está disposto a ¿fazer sua parte, se houver proporcionalidade dos principais parceiros¿.

No próximo dia 2 de novembro haverá outra videoconferência sobre o assunto.

(*) Com agências internacionais