Título: PARA FAZER VALER NOSSOS DIREITOS
Autor:
Fonte: O Globo, 29/10/2005, O Globo, p. 1

Liberdade, igualdade e fraternidade ainda inspiram novas gerações que buscam mundo sem injustiça

Fazer valer nossos direitos e agir de acordo com nossos deveres é o que nos torna cidadãos. A vida em sociedade exige o cumprimento de regras. Afinal, do mesmo modo que temos direitos, também temos nossas obrigações. Todo ser humano deve ser respeitado, independentemente da cor de sua pele, religião, origem, classe social. Discriminar alguém, seja qual for a razão, seja de qual país for, é crime contra os direitos humanos.

¿Liberdade, igualdade e fraternidade¿. Até hoje esses princípios que deram origem à Revolução Francesa são lembrados como um dos mais importantes na luta pelos direitos humanos. Para o filósofo alemão Kant, a revolução significava uma nova era: a liberdade de ação.

Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Declaração dos Direitos Humanos, que tem por objetivo tornar mais digna a vida das pessoas no mundo. Nela, há artigos que dizem que somos todos iguais e temos os mesmos direitos a liberdade, educação, saúde, alimentação e moradia. As conquistas desses direitos e das melhorias das condições de vida foram e ainda são difíceis e demoradas, exigindo dedicação, fiscalização e um imenso sacrifício de várias pessoas de todo o mundo.

É extremamente complicado ter que atravessar fronteiras, lidar com políticas e leis próprias de cada país, para exigir e fazer lembrar as leis básicas para uma vida digna em sociedade. Mas com o esforço de cada um de nós em exercer a cidadania, será possível a construção de um mundo melhor e mais justo.

O fato ocorrido em Londres fere os direitos humanos, nos envergonha, e demonstra ao mundo que mesmo as nações consideradas desenvolvidas, o são industrialmente, mas não humanitariamente. O que podemos esperar de um país que tem como lema: ¿Se parecer suspeito, atiramos para matar?¿ E o direito à defesa? O direito de ir e vir? Os direitos humanos? E se não for culpado, como no caso de Jean Charles de Menezes, brasileiro, que vivia em Londres e caminhava em direção a seu trabalho?

Na estação do metrô de Stockwell, em 22 de julho, Jean Charles foi confundido com um terrorista e, por isso, foi morto pelas costas, sem ser abordado, sem direito de saber o motivo. Apenas suposições falsas de uma polícia despreparada: ¿Ah, foi um engano, sorry...¿. E ainda consideram esse país altamente civilizado.

Está claro que existem muitas coisas erradas nessas avaliações, pois um país onde sua polícia atira num ser humano baseando-se em critérios profundamente cruéis, não pode ser considerado civilizado. Como dizia, Kant, ¿A razão distingue o certo do errado; logo, se as pessoas saíssem matando umas às outras, não sobraria ninguém.¿ É isso o que queremos? Construir ou destruir? ¿Todos têm o direito à vida, à liberdade, à propriedade e a revoltar-se contra regras injustas¿, declarou o filósofo inglês John Locke, no século XVIII, mas parece que o governo inglês não assimilou bem isso, o que é uma pena.

Conquistas que mudaram a História

Grandes nomes chamaram a atenção do mundo para a importância de se respeitar os direitos humanos. Suas conquistas mudaram a História e ficaram como uma lição para que possam ser aproveitadas por todos nós.

Com suas ações, essas pessoas aceleraram os passos da Humanidade em direção a uma vida melhor, combatendo a fome, a discriminação racial, a miséria e a guerra. O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi muito admirado no Brasil, por ter mobilizado milhares de pessoas com doações a favor de campanhas de solidariedade no combate à miséria e à fome. Morreu em 1997, aos 61 anos.

Já Nelson Mandela sempre lutou contra o apartheid, sistema da África do Sul que dava vantagens aos brancos e impedia os negros de ter direitos políticos. Em 1964, foi condenado à prisão perpétua por ser contrário a essa situação. Mesmo na prisão, continuou lutando pelo fim da discriminação racial. Conseguiu ser libertado em fevereiro de 1990, e logo depois o apartheid teve fim. Em 93, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e, em 94, foi eleito presidente da África do Sul.

Luta contra a discriminação

Martin Luther King, pastor batista e líder do movimento pelos direitos das pessoas negras nos Estados Unidos, começou sua luta em igrejas do Alabama e da Geórgia. Em seus discursos, defendia a necessidade de conseguir o que se queria sem violência. Ele lutava pelos direitos da população negra, criticava as guerras, como a do Vietnã, e também a indiferença da sociedade em relação aos pobres. Foi assassinado em Menphis, nos Estados Unidos, em 1968.

Mahatma Gandhi dedicou a maior parte de sua vida à independência da Índia em relação à Inglaterra. O país se tornou livre em 1947. Ele era a favor da não-violência, mas foi assassinado em 1948.

Construir um mundo sem injustiças, sem preconceitos é o que se quer. Nenhuma pessoa é melhor ou pior do que a outra por causa da cor de sua pele, de sua religião, ou de sua origem. Não ter preconceitos é uma das principais formas de respeito ao próximo. Queremos viver em um mundo sem guerras. E por um mundo de paz, vale a pena lutar.

REPORTAGEM de Ana Luiza Firmeza Rocha, 15 anos, de Laranjeiras, no Rio