Título: UM CRIMINOSO ASSISTENCIALISTA
Autor: Jorge Martins
Fonte: O Globo, 30/10/2005, Rio, p. 22

Traficante distribuía cestas e promovia festas

Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, passou a ficar conhecido no ano passado, quando o comando do tráfico na Rocinha mudou de mãos. Isso aconteceu depois que a favela foi invadida por traficantes do Vidigal, com apoio de quadrilhas de outros morros, em abril de 2004. A ação foi chefiada por Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, em guerra com Luciano Barbosa, o Lulu, que acabou sendo morto por PMs do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Com a morte de Lulu, Bem-Te-Vi assumiu seu lugar.

Segundo a polícia, para obter apoio dos moradores da Rocinha, o marginal seguia a mesma política assistencialista de Lulu. Ele pagava cestas básicas distribuídas na comunidade e promovia grandes festas. Uma delas aconteceu no último Dia das Crianças e reuniu mais de três mil pessoas. Foram distribuídos doces e presentes. Seguranças armados garantiam a proteção do bandido.

Chamou a atenção a festa organizada pelo marginal de 15 a 17 de julho, para comemorar seu aniversário de 28 anos. Foram servidos uísque, cerveja e drogas aos convidados.

Policiais levantaram a suspeita ainda de ligações entre Bem-Te-Vi e líderes comunitários. Em fevereiro deste ano, o presidente de um associação da favela foi preso porque um dos rádios da entidade fora usado por Bem-Te-Ti. Investigadores da Polinter acusaram ainda jogadores de futebol de terem contato com o criminoso, em eventos beneficentes. Mais tarde, os atletas foram inocentados. Nem mesmo a polícia se livrou das acusações de conivência com o bandido. Sete PMs foram presos, acusados de receber propina do tráfico.

Bem-Te-Vi era obcecado por seu arsenal, composto de modernos fuzis e pistolas de última geração: algumas armas ganharam brilho dourado, depois de serem banhadas em cobre.