Título: Bem-Te-Vi não voa mais
Autor: Jorge Martins
Fonte: O Globo, 30/10/2005, Rio, p. 22

Traficante mais caçado é morto em confronto com a polícia na Rocinha

Otraficante mais procurado pela polícia ultimamente, Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te -Vi, morreu ontem de madrugada numa troca de tiros com policiais da 25ª DP (Triagem) próximo ao valão do Largo do Boiadeiro, na Favela da Rocinha. O bandido assumira o controle do tráfico da favela com a morte do traficante Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, em 9 de abril de 2004, também em confronto com a polícia.

O tiroteio que resultou na morte do bandido ocorreu por volta das 3h. A Operação Tróia ¿ assim batizada porque um grupo de dez policiais passou a alugar numa casa na favela há duas semanas ¿ foi comandada pelo delegado Luís Antonio Ferreira, titular da Delegacia de Triagem. O policial disse que o confronto durou cerca de uma hora. Ao ser surpreendido pelos policiais, Bem-Te-Vi estava com 12 seguranças armados de fuzis, que logo chamaram reforço.

Granadas e bombas de efeito moral

O confronto teve até granadas e bombas de efeito moral, lançadas, segundo a polícia, pelos bandidos. A chegada de reforço de policiais da Coordenadoria de Operações Especiais (Core) e da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) impossibilitou a fuga do chefe do tráfico. Acuado próximo ao valão com seus cúmplices, Bem-Te-Vi, resistia às balas. Um tiro de fuzil disparado pela polícia acertou a pistola Glock 9mm, dourada, do bandido. A pistola acabou emperrando. Foi no momento em que pegava um fuzil, também dourado, com um cúmplice que Bem-Te-Vi foi atingido.

Com o chefe do bando caído, o tiroteio aumentou de intensidade no momento em que o blindado da polícia se aproximou para resgatar os policiais e o bandido ferido. Nesse momento, os transformadores da favela foram estourados a tiros pelos bandidos. A Rocinha e o Túnel Zuzu Angel ficaram às escuras. Tiros de balas traçantes iluminavam o céu. Com o tiroteio e as seguidas explosões de granadas, a Auto-estrada Lagoa-Barra foi fechada por 20 minutos pela polícia, por medida de segurança. Apavorados, alguns motoristas deram marcha a ré.

Gravemente ferido com tiros no peito e na cabeça, Bem-Te- Vi foi colocado no caminhão blindado da polícia chamado Caveirão (ou Pacificador, como foi recentemente batizado pelo secretário de Segurança) e levado para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. A polícia alegou que, se levassem o bandido ferido para o Miguel Couto, mais próximo, poderia haver manifestação de moradores da Rocinha no Leblon.

Operação ainda deixou 4 feridos

A chegada do bandido ao Souza Aguiar, às 3h45m, foi alvo de curiosidade. Bem-Te-Vi foi retirado do blindado da polícia e levado por quatro policiais para dentro do hospital. Ele tinha os cabelos pintado de vermelho e bem cortado, vestia calça jeans e camiseta branca. Houve confraternização dos policiais envolvidos na Operação Tróia. Todos estavam sorridentes e se abraçaram. A maioria dizia:

¿ Esse não voa nunca mais. Acabou.

A euforia se estendeu ao chefe de Polícia, Álvaro Lins, que parabenizou um a um. Lins destacou como homens chave para o sucesso da operação os inspetores Hélio e Ferreira, dois dos que passaram a alugar a casa na favela.

¿ Eles demonstraram profissionalismo e coragem ficando na casa, alugada num dos pontos mais perigosos da favela ¿ disse o chefe de Polícia.

A morte do bandido levou o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, ao Souza Aguiar. Ele chegou às 4h05m. Os policiais foram saudados com acenos e aperto de mãos.

Na operação foram apreendidas duas pistolas ¿ uma Uzi, além da Glock d e Bem-Te-Vi ¿ e um bracelete dourado. Durante a operação policial que resultou na morte do traficante Bem-Te-Vi, três moradores da Rocinha foram feridos a tiros. Manuel Rodrigues, de 54 anos, atingido no pescoço, Joana Amorim do Nascimento, de 52, com um tiro no braço, e Luciano Ferreira, de 29, baleado na perna, estão internados no Hospital Miguel Couto, no Leblon. Morreu no mesmo hospital Eduardo Jorge Menezes, de 24 anos, que também foi baleado na operação e, segundo a polícia, fazia parte da quadrilha chefiada por Bem-Te-Vi.

COLABORARAM Fernanda Pontes e Taís Mendes