Título: Crédito pode chegar a 50% do PIB nos próximos anos, dizem analistas
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 30/10/2005, Economia, p. 34

Empréstimo também cresceu para firmas e debêntures tiveram alta de 270%

itar parcialmente dois empréstimos, que já comprometem 30% de seu orçamento: ¿Vou me apertar e, com o dinheiro que entra no fim do ano, tentar reduzir as dívidas¿

RIO e SÃO PAULO. A recente alta na inadimplência e o esgotamento na capacidade do consumidor de se endividar são efeitos colaterais de uma mudança estrutural na economia brasileira: o avanço do crédito, que, segundo especialistas, é imprescindível para o crescimento sustentado do país. Os analistas explicam que ainda há pouca oferta de empréstimos no Brasil e apostam que, nos próximos anos, o volume de financiamentos poderá chegar a pelo menos 50% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto das riquezas produzidas pelo país).

Hoje, o crédito está em 28,9% do PIB, taxa significativamente maior do que os 23,9% do PIB de 2002. Mas ainda bem aquém, por exemplo, dos 60% do PIB no Chile.

Nélson Rocha Augusto, presidente da BB DTVM ¿ maior gestora de fundos de investimentos da América Latina ¿ destaca que a expansão do crédito ao consumidor veio acompanhada de um forte aumento nos empréstimos a empresas. Só a emissão de debêntures ¿ título corporativo usado pelas companhias ¿ cresceu 270% este ano e alcançou R$32,52 bilhões. Para Rocha, esse montante pode chegar a R$50 bilhões no fim do ano.

¿ O crédito tem crescido e com mudanças qualitativas. Os prazos estão maiores para consumidores, para o governo nos títulos da dívida pública e também para as empresas. Hoje, já se emitem debêntures para cinco anos, o que era impensável há dois anos ¿ afirma Rocha.

Especialista teme efeito na economia no início de 2006

Na sua opinião, a maior estabilidade da economia e inovações jurídicas, como o crédito consignado e a nova Lei de Falências, explicam esse avanço nos financiamentos. Rocha estima que, se considerados os instrumentos de crédito corporativo, os empréstimos totais do país já chegam a 33% do PIB. E estima que, em quatro ou cinco anos, poderão alcançar 60% ou 70% do PIB.

Aumentar o crédito é importante porque significa ter mais recursos disponíveis para investir na capacidade produtiva do país, explicam os analistas. Erivelto Rodrigues, presidente da consultoria Austin Rating, também acredita que há espaço para um avanço ainda maior:

¿ A média dos emergentes é de 50% do PIB e o Brasil poderia atingir esse nível em breve.

O aumento acelerado do crédito no Brasil mudou o desenho do balanço dos bancos. Dados da Austin Rating mostram que, na receita dos 150 maiores bancos do país, o crédito ocupa hoje a fatia que antes era destinada às operações de tesouraria (como compra e venda de títulos do governo e operações no mercado de câmbio), respondendo por 50% da receita dos bancos ¿ contra menos de 30% no governo Fernando Henrique Cardoso.

Há economistas que não vêem com preocupação o recente pico na inadimplência. Eles avaliam que, frente a uma expansão tão forte do crédito, é natural haver uma acomodação no ritmo de novos empréstimos e uma alta isolada no calote. Afinal, os brasileiros não estão habituados a uma oferta tão ampla de financiamentos.

¿ Ainda é cedo para se falar em calote. Nos próximos meses o salário real deve aumentar, devido à queda da inflação, o que permitirá que as pessoas quitem dívidas ¿ afirma Antonio Licha, coordenador do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

Nelson Barrizelli, da USP, também descarta o risco de um ¿tranco na economia¿:

¿ Mas fica a dúvida para os primeiros meses de 2006.

O economista Claudio Considera, professor do Ibmec, aposta no crescimento da economia como forma de equilibrar a expansão do crédito:

¿ O país vai crescer mais de 3% nos próximos dois anos.

O estoquista Renato Almeida confia na expansão do salário para quitar dois empréstimos que hoje comprometem mais de 30% de sua renda:

¿ Vou me apertar e, com o dinheiro que entra no fim do ano, tentar reduzir as dívidas.

PROJETOS DE LEI SOBRE CADASTRO POSITIVO NA BERLINDA, na página 39