Título: O JORNALISMO DE WASHINGTON VAI A JULGAMENTO
Autor: Dorrit Harazim
Fonte: O Globo, 30/10/2005, O Mundo, p. 40

Especialistas criticam `jogo do vazamento¿, em que informações são liberadas por interesse

WASHINGTON. A Casa Branca não é a única instituição em julgamento no caso do vazamento de informação sobre a CIA. O jornalismo de Washington também está na berlinda.

O indiciamento de Lewis ¿Scooter¿ Libby, chefe de gabinete do vice-presidente, concentra-se no fato de ele ter contado a três jornalistas sobre a mulher de Joseph Wilson, após este criticar o presidente George W. Bush. Matthew Cooper, da ¿Time¿; Judith Miller, do ¿New York Times¿; e Tim Russert, da NBC News, devem ser convocados como testemunhas se Libby for a julgamento, colocando os padrões de reportagem de Washington sob os holofotes.

¿ É verdade que o jornalismo está em julgamento ¿ disse Jane Kirtley, professora de ética na mídia da Universidade de Minnesota.

A investigação revelou o ¿jogo do vazamento¿. Enquanto muitos vazamentos em Washington resultam de um trabalho cuidadoso de cavar a informação, freqüentemente funcionários do governo liberam dados sensíveis, algumas vezes confidenciais, a repórteres dos principais veículos de comunicação. Às vezes, isso promove um ponto de vista ou ataca o do adversário.

Repórteres participam do jogo ao receber a informação e publicá-la. Às vezes falham em garantir acesso a outra perspectiva, segundo especialistas. Isso cria a desconfiança dos leitores.

¿ Esta investigação tem demonstrado como as relações são incestuosas entre jornalistas e suas fontes ¿ disse Kirtley.

Isso mostra como promessas de anonimato nem sempre servem ao público e como jornalistas precisam estar atentos para não serem usados por fontes para promover suas causas.

Caso já afeta forma como jornalistas e fontes agem

Em 2003, o promotor Patrick Fitzgerald começou a investigar se alguém no governo Bush havia revelado a identidade da ex-agente da CIA Valerie Plame, numa retaliação a Wilson. O ex-embaixador caíra em desgraça ao revelar que eram poucos os indícios de que Saddam Hussein tentara comprar urânio do Níger para armas de destruição em massa. O documento de indiciamento diz que Libby mentiu a agentes do FBI na investigação, cometeu perjúrio diante do grande júri e obstruiu a Justiça. ¿Libby supostamente mentiu sobre o que discutiu sobre Valerie Plame Wilson em conversas¿ com Cooper, Miller e Russert.

As investigações já afetam a forma como repórteres obtêm as notícias. As fontes estão mais reticentes sobre o que vão contar e os jornalistas, mais cautelosos em usar fontes anônimas.

Chamar jornalistas a testemunhar diante de um grande júri e possivelmente num julgamento expõe a falta de proteção legal a repórteres para proteger suas fontes confidenciais.

¿ O que mais me preocupa é que este caso se baseia em conversas com jornalistas ¿ disse Lucy Dalglish, diretora-executiva do Comitê de Repórteres pela Liberdade de Imprensa. ¿ Temo que isso se torne um novo meio de agir dos promotores. Intime repórteres e preencha a folha de queixa criminal.