Título: AFTOSA: TENSÃO NA FRONTEIRA AUMENTA
Autor: Ana Paula de Carvalho e Honório Jacometto
Fonte: O Globo, 31/10/2005, Economia, p. 17

Brasil detém militar paraguaio e membros de missão internacional

CURITIBA, CAMPO GRANDE e ASSUNÇÃO. A epidemia de aftosa em Mato Grosso do Sul ¿ que com a adesão de Angola e Bulgária já provocou o embargo de 47 países às exportações de carne brasileiras ¿ está aumentando a tensão na fronteira entre Brasil e Paraguai. Na tarde de sábado, o sargento do Exército do Paraguai Juan Solalinde foi detido por agentes do Departamento de Operações de Fronteira do Brasil, e ficou preso na cidade de Novo Mundo, Mato Grosso do Sul, até a madrugada de domingo. Segundo a agência de notícias EFE, funcionários do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) também foram detidos.

O incidente aconteceu em uma área perto da cidade paraguaia de Salto del Guairá, na fronteira entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul, onde foram detectados os primeiros focos de aftosa no Brasil. O grupo da Panaftosa era formado por representantes de Argentina, Brasil, Paraguai, Bolívia e Uruguai, que percorriam a fronteira para evitar a entrada de gado brasileiro em território paraguaio. As autoridades brasileiras afirmam que a prisão do militar paraguaio aconteceu porque ele estaria dirigindo um carro que havia sido roubado no Brasil.

O incidente causou mal-estar entre os dois países. Segundo o comandante das Forças Armadas do Paraguai, Miguel Angel Aquino, os agentes do DOF agiram com arbitrariedade ao abordar o sargento. Ele planeja denunciar o caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Paraguai sacrificou 90 cabeças de gado do Brasil

O diretor do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal (Senacsa) do Paraguai, Hugo Corrales, disse que a detenção temporária dos técnicos foi um mal-entendido. E acrescentou que não se pode assegurar que fatos como esse se repitam, por causa do ambiente tenso na fronteira.

Corrales e os brasileiros que participavam da delegação da Panaftosa foram à cidade de Novo Mundo, no Mato Grosso do Sul para negociar a libertação do militar paraguaio. Nos últimos dias, o Paraguai estendeu a barreira sanitária com o Brasil até a divisa com o estado do Paraná, onde foram confirmados novos focos da doença. Ontem, a Senacsa informou que sacrificou 90 cabeças de gado de origem brasileira que haviam entrado ilegalmente no Paraguai. O gado não estava contaminado, mas foi confiscado e sacrificado assim mesmo.

Desde a descoberta dos focos de aftosa no Mato Grosso do Sul, os incidentes entre Brasil e Paraguai têm aumentado. O Brasil investiga a entrada ilegal de autoridades sanitárias paraguaias no país. Técnicos brasileiros foram impedidos de entrar no Paraguai para levar às autoridades sanitárias do país vizinho exames que comprovariam que animais de uma fazenda na linha de fronteira estavam com aftosa. O caso seria repassado ao Itamaraty.

Laudos sobre possível foco no Paraná saem amanhã

O governo do Paraná deve divulgar amanhã o resultado dos exames realizados em 19 animais de fazendas do noroeste do estado que, suspeita-se, podem ter sido contaminados pelo vírus da febre aftosa. A informação é do diretor da Secretaria da Agricultura do Paraná, Newton Pohl Ribas.

Além de interditar quatro fazendas em municípios da região da Maringá, o governo paranaense encaminhou material coletado em reses dessas propriedades para Belém, onde funciona um laboratório habilitado pelas autoridades sanitárias para comprovar a ocorrência da doença. Diante da demora dos laudos oficiais, pecuaristas paranaenses buscaram a avaliação de especialistas e, no fim de semana, divulgaram laudos independentes, feitos por cinco veterinários, atestando que nenhum dos animais trazidos de Mato Grosso do Sul estava contaminado. O resultado, porém, é contestado pelas autoridades.

¿ De que maneira os animais foram examinados se as fazendas estão interditadas? Só há dois laboratórios no país autorizados a realizar os testes, um no Pará e outro em Pernambuco ¿ disse Ribas.

(*) Com agências internacionais