Título: CPI investiga denúncia de suposta doação de Cuba
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 01/11/2005, O País, p. 5

Ex-assessor de Palocci, que teria confirmado remessa ilegal de US$3 milhões, vai depor terça-feira que vem

BRASÍLIA. A CPI dos Bingos começa a investigar na próxima semana a denúncia publicada pela revista ¿Veja¿ desta semana de que Cuba teria remetido ilegalmente US$1,4 milhão ou US$3 milhões ¿ dependendo da versão dos denunciantes ¿ para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Foi marcado para a terça-feira que vem, dia 8, o depoimento de Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na época em que este era prefeito de Ribeirão Preto, e uma das fontes da nova denúncia contra o PT. No que depender da oposição, o assunto também deverá ser abordado na CPI dos Correios. Mais cautelosos que o PFL, os tucanos são contra a convocação imediata de Palocci.

Lista de convocados tem dez nomes citados por revista

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), enviou ontem à CPI dos Bingos dez requerimentos convocando todos os citados na reportagem. Entre eles estão o advogado Rogério Buratti, outro ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto que confirmou a doação de Cuba em favor da campanha de Lula; o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e até mesmo o deputado José Dirceu, que na época era presidente do PT.

Virgílio apresentou ainda um convite pedindo que o diplomata cubano Sérgio Cervantes apresente sua versão sobre o episódio, já que foi identificado pela revista como um dos intermediários da doação ilegal. O único que ficou fora desta lista de convocações, pelo menos por enquanto, foi o ministro da Fazenda.

¿ Palocci será convocado com o meu voto, mas só depois que essas pessoas ligadas a ele confirmarem as denúncias contra o ministro ¿ afirmou Virgílio.

Já o vice-presidente do PFL, senador José Jorge (PE), disse ser inevitável a convocação de Palocci:

¿ Não dá mais para adiar essa convocação. O requerimento convocando Palocci já foi apresentado. O máximo de concessão que podemos fazer é aguardar o depoimento de Poleto e Buratti para depois votarmos o requerimento.

O governo deverá unir esforços para impedir a abertura de nova frente de investigação que tenha como alvo principal o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) e o deputado Maurício Rands (PT-PE) tentaram desqualificar a reportagem, argumentando que não foram apresentadas provas da veracidade da denúncia.

¿ A reação da oposição é um reflexo do acirramento que já existia antes mesmo do surgimento das novas denúncias. Eles já deixaram claro que querem centrar suas baterias no presidente Lula em razão do clima pré-eleitoral. Vamos continuar agindo como atuamos até aqui, no sentido de manter o foco de nossas investigações ¿ disse Ideli, titular da CPI dos Correios.

Da tribuna, o senador Tião Viana (PT-AC) ponderou que o acirramento dos ânimos entre representantes da base aliada e da oposição não ajudará em nada a investigação e poderá prejudicar os dois lados:

¿ O cenário de terra arrasada é ruim para os dois lados. Do jeito que vamos, não sobra ninguém em pé.

Para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), as denúncias são gravíssimas e, se confirmadas, o Congresso perde o controle sobre elas:

¿ Por isso, temos de agir de maneira responsável.

Para pefelista, denúncia ameaça registro do PT

Já o líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), disse que, se o delito for comprovado, poderá ocorrer um processo pela cassação do mandato de Lula e do registro do PT:

¿ Pelo código eleitoral, esse é um crime gravíssimo que poderá determinar a perda do mandato de Lula. A investigação se faz necessária e tem como alvo principal o presidente. É inacreditável que uma campanha presidencial tenha recebido dinheiro do exterior, de um país com o qual o governo do PT tem identidade programática. Para onde eles foram quando exilados? Para quem foram os abraços mais fraternos? As evidências apontam fortes indícios de que tudo isso seja verdade.

Virgílio diz que a oposição levará as investigações até as últimas conseqüências:

¿ Não devemos forçar um pedido de impeachment, mas não vamos passar a mão na cabeça de alguém que mereça esse impeachment.

O assunto deverá ser discutido hoje durante reunião da CPI dos Correios.

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