Título: UM VELHO CONHECIDO NO PAÍS
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 01/11/2005, O País, p. 8

Diplomata cubano é defendido por parlamentares

BRASÍLIA. Apontado como o homem que teria entregado caixas de dólares para a campanha presidencial de Lula, o diplomata cubano Sérgio Cervantes é uma personalidade conhecida no mundo político brasileiro. Ontem, parlamentares defenderam Cervantes em relação ao envolvimento dele no suposto financiamento de Cuba para o PT. Homem de confiança de Fidel Castro, ele chegou ao Brasil em meados da década de 70 para fazer contatos com a esquerda no país.

As primeiras passagens de Cervantes no Brasil datam de 1975. Ele chegou aqui como técnico em produção de açúcar. Em 1978, se aproximou de políticos de esquerda. Um dos primeiros contatos era com o então prefeito de Piracicaba e hoje deputado federal João Herrmann (PDT-SP), um antigo quadro do PCB. Até hoje os dois são amigos.

Terceiro homem na hierarquia do Departamento das Américas do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, Cervantes participou de encontro do PCdoB na semana passada, em Brasília, e até discursou. Agradeceu a posição brasileira contra o bloqueio a Cuba.

¿ Cervantes é um brasileiro infiltrado em Cuba. Sou o melhor amigo dele no Brasil. Jamais Cuba queimaria um quadro como ele para um episódio dessa natureza ¿ diz Herrmann.

Por ordem de Fidel, Cervantes iniciou relações com setores da direita nos anos 80, com a missão de reatar relações diplomáticas entre Brasil e Cuba, o que aconteceu no governo Sarney, em 1986. Na época aproximou-se do pefelista Marco Maciel, então chefe da Casa Civil.

¿ Cervantes teve um papel fundamental para a retomada das relações Brasil e Cuba. Ele tem trânsito com vários políticos ¿ disse o presidente do PPS, deputado Roberto Freire.

Ele serviu como diplomata cubano no Brasil em três ocasiões desde 1986. O último posto, como ministro-conselheiro para questões políticas ele deixou em março de 2003. Quando Cervantes percebeu o fortalecimento do PT no fim dos anos 80, voltou a se aproximar de dirigentes do partido, inclusive o amigo José Dirceu. Era um dos principais fornecedores de charutos cubanos.

Quando Dirceu esteve em Cuba em 2004 foi recebido por Cervantes. Os dois ficaram amigos no fim dos anos 60, quando Dirceu se exilou na ilha. Negro, forte e descrito pelos políticos brasileiros como um bon vivant, Cervantes também foi amigo do líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella.

Com a vitória de Lula em 2002, Cervantes virou um dos diplomatas cubanos mais influentes. Na festa de despedida do embaixador do Brasil em Havana, Tilden Santiago, o cubano chegou acompanhado por Dirceu.

Coincidência ou não, o embaixador estava ontem em Brasília, no Congresso. Até se encontrou com Dirceu, no cafezinho do plenário, mas só trocaram poucas palavras. Tilden fugiu da polêmica, dizendo apenas:

¿ Cervantes sempre ajudou nas relações institucionais Brasil-Cuba. Essa história em que tentam envolvê-lo é inverossímil.

Um pesquisador da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, Rex A. Hudson, apontou em 1988 Sergio Cervantes como funcionário do do governo cubano no Brasil encarregado, nos anos 80, de fazer ingerências junto ao governo brasileiro para reaproximar Cuba e Brasil. Procurado pelo GLOBO, Hudson informou ontem não ter mais informações sobre Cervantes.

COLABORARAM Ilimar Franco e Toni Marques