Título: ONU APROVA RESOLUÇÃO PARA PRESSIONAR A SÍRIA
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 01/11/2005, O Mundo, p. 29

Conselho de Segurança ordena que Damasco coopere com investigação de assassinato de ex-premier libanês

NOVA YORK. Foi com pompa e circunstância que o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade ontem uma resolução ordenando a Síria a cooperar incondicionalmente com as investigações para identificar os responsáveis pelo assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, do Líbano, em fevereiro.

Treze chanceleres viajaram a Nova York para dar mais peso à votação, mas o ¿sim¿ de todos os 15 membros do Conselho só foi conseguido com o abrandamento da resolução. Na última hora, foi retirada a ameaça de sanções contra o governo do presidente Bashar al-Assad no caso de ele não entregar acusados de envolvimento no assassinato, que, segundo uma comissão internacional, estariam bem próximos do palácio.

Assad ligou para Lula e Condoleezza, para Amorim

Brasil, China, Rússia e Argélia tinham sinalizado que poderiam se abster se a resolução ameaçasse a Síria com sanções, como previsto na proposta encaminhada por EUA, França e Reino Unido. Mas, depois da supressão de parte de uma frase, a unanimidade foi conseguida, dando mais peso às pressões.

¿ No primeiro projeto os suspeitos já eram praticamente condenados antes de serem julgados ¿ disse o chanceler Celso Amorim após a reunião.

Mesmo usando tons diferentes, os representantes dos países-membros consideraram bom o texto adotado, segundo o qual os acusados do crime terão bens congelados e serão impedidos de viajar ou transitar por qualquer dos países-membros da ONU. Um comitê reunindo os 15 membros do Conselho de Segurança supervisionará a aplicação das punições e estabelecerá os casos de isenção.

Para a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, o Conselho deixou claro que Damasco tem de parar de intervir no Líbano e, se isso não acontecer, a comunidade internacional poderá estudar medidas mais duras. Os EUA, além de exigirem a punição dos culpados pelo assassinato de Hariri, vêm acusando a Síria de abrigar os rebeldes do Iraque, os radicais palestinos e grupos antiisraelenses, como o Hezbollah.

¿ Não existe nada contra os países árabes. Trata-se de fazer a Síria prestar contas de suas atividades que estão deixando frustrados o povo libanês, o povo iraquiano e o povo palestino ¿ disse Condoleezza.

Para Amorim, a resolução é eficaz e a Síria já sinalizou que vai cooperar. Ele confirmou que Assad telefonou para pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o seu apoio na ONU. Os patrocinadores da resolução também entraram em ação e Amorim contou que, antes de sair do Brasil, recebeu telefonemas de Condoleezza e do chanceler da França, Douste-Blazi. Já em Nova York, manteve contatos com o chefe da missão da Argélia.

Fatos desde o assassinato de Hariri