Título: Valério diz que PT teve mais arrecadadores
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 02/11/2005, O PAÍS, p. 8

CRISE POLÍTICA: CPI DO MENSALÃO IDENTIFICA MAIS QUATRO SACADORES AO ANALISAR A CONTABILIDADE DO EMPRESÁRIO MINEIRO

Empresário dá depoimento reservado, mas não identifica quem seriam os outros participantes do esquema

BRASÍLIA. Em reunião reservada com integrantes da CPI do Mensalão, que durou cerca de três horas, o empresário Marcos Valério de Souza disse ontem que não foi o único operador do esquema financeiro do PT. Embora sugerindo que existem outros responsáveis pela arrecadação de dinheiro, Valério, segundo o relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), não identificou quem mais poderia ter participado do financiamento das campanhas petistas ou do suposto pagamento de mesadas a aliados do governo. A preocupação maior do empresário foi mostrar que a lista de sacadores que apresentou à CPI pode ser comprovada a partir da análise da movimentação financeira dos envolvidos. E que os valores de sua lista são os verdadeiros. Ele também forneceu o sobrenome de alguns sacadores identificados originalmente na sua lista apenas pelo primeiro nome. Todos, por enquanto, são desconhecidos. ¿ Está cada vez mais claro que Valério não é o único operador do PT. Cabe à CPI identificar os demais participantes do esquema ¿ disse o senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), subrelator de movimentação financeira da CPI.

Com a análise da contabilidade do empresário, a CPI identificou pelo menos mais quatro sacadores em suas contas: Francisco de Assis Novaes, Newton Vieira Filho, Fernando César Rocha Pereira e Luiz Carlos Miranda Faria. Esse último foi candidato a vereador pelo PTB em Ipatinga (MG), ano passado, e teria recebido R$68 mil. A comissão não conseguiu vincular os outros três a qualquer partido ou parlamentar envolvido com o mensalão. ¿ Já verifiquei se eles (sacadores) são vinculados a alguma secretaria parlamentar. Vamos investigar se são empregados de alguma corretora como a Bônus Banval ou a Guaranhuns para ver se há algum vínculo com algum político ¿ disse Abi-Ackel.

Subrelator: Valério pouco acrescenta às investigações

Diante das dúvidas suscitadas na superacareação da semana passada na CPI, Valério se dispôs a dar novos esclarecimentos ao presidente da comissão, Amir Lando (PMDB-RO), e ao relator Abi-Ackel. Ontem, o empresário reforçou as discrepâncias de valores entre o que alega ter pagado a pedido do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e o que os beneficiários admitem ter recebido. Para Tourinho, ele pouco acrescentou ao que a CPI já sabia. ¿ A acareação confirmou que R$30 milhões teriam ido para o PT e R$25 milhões para os aliados. Temos alguém assumindo que autorizou o pagamento, Valério admitindo que pagou e beneficiários reconhecendo que receberam. Independentemente dos valores, está caracterizado o crime ¿ disse Tourinho.