Título: Mais uma suspeita de grampo
Autor: Adriana Vasconcelos e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 03/11/2005, O País, p. 3

Presidente do Conselho de Ética da Câmara diz que achou escuta no escritório em São Paulo

Depois dos deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), ontem foi a vez de o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), denunciar que está sendo espionado. Izar, responsável pelo andamento dos processos de cassação dos parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão, disse que, na sexta-feira passada, localizou uma escuta telefônica em seu escritório, em São Paulo. O grampo foi encontrado, segundo Izar, por uma empresa contratada para fazer varredura no escritório.

O deputado disse que levou o caso à Polícia Federal, que está fazendo varredura no apartamento de São Paulo e nos celulares. A Polícia da Câmara, acionada, está fazendo perícia nos telefones do gabinete, nos aparelhos usados por ele no Conselho e em sua casa em Brasília.

¿ Não tenho idéia de quem pode estar por trás disso. É fato que recebo pressões de todos os lados, mas não vejo como alguém possa se beneficiar de um grampo como esse ¿ disse o deputado, que vai decidir hoje se pede providências ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Izar contou que desconfiou do grampo quando, na semana passada, dava uma entrevista por telefone a uma rádio e ouviu ruídos estranhos:

¿ O repórter perguntou, brincando: ¿O senhor não está grampeado, não?¿. Disse que achava que sim.

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) informou que tomará providências sobre a denúncia de ACM Neto. A suspeita sobre a Abin foi levantada pelo deputado, que disse ter informações de que seu telefone foi grampeado ilegalmente.

ACM Neto preparou relatório para a Abin

A Abin divulgou nota negando participação na suposta espionagem. Ontem, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Jorge Armando Felix, enviou ofício ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com cópia para ACM Neto, pedindo informações sobre o caso. Se um deles confirmar a suspeita, a Abin, subordinada ao GSI, abrirá investigação.

ACM Neto fez um relatório sobre o suposto grampo. Ele conta que ouviu de duas fontes detalhes de conversas que teve por telefone com outras pessoas nas quais dava informações sobre investigações da CPI dos Correios. No ofício, que deverá ser enviado à Abin, ACM Neto pede que o órgão não cuide das investigações.

¿ Isso seria inócuo. A Abin não vai se auto-investigar. Desconfio que agentes da própria Abin estejam por trás disso, extra-oficialmente.

O deputado sugeriu que o grampo faz parte de uma estratégia do governo para intimidar integrantes da CPI dos Correios. Anteontem, ao denunciar a suposta espionagem, disse que daria uma surra no presidente Lula, a exemplo do que dissera o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que também disse estar sendo espionado.

No clima de caça às bruxas que ronda as investigações no Congresso, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) passou por uma situação de estresse. A secretária de seu escritório em São José dos Campos recebeu anteontem telefonema anônimo informando que a deputada fora seqüestrada. O susto durou meia hora, até que os assessores conseguiram localizá-la a salvo.

A deputada acredita que tenha sido trote, mas não descartou a hipótese de ameaça e registrou o caso na PF. Ângela é a principal defensora do deputado José Dirceu (PT-SP) em seu processo de cassação.

¿ As pessoas ficaram apavoradas. Acho que não passou de brincadeira de mau gosto, mas nestes dias nunca se sabe o que pode acontecer ¿ disse ela ontem.

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