Título: Lula: `A oposição está desesperada com a recuperação da popularidade¿
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 03/11/2005, O País, p. 4

Presidente se reúne com gabinete da crise para avaliar ataques ao governo

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou esta semana que o recrudescimento dos ataques da oposição se deve à recuperação da popularidade do governo e à possibilidade concreta de ele ser reeleito ano que vem. A avaliação de Lula foi feita mais de uma vez nos últimos três dias em reuniões reservadas com assessores e ministros no Palácio do Planalto. Lula quer saber agora se a beligerância é generalizada na oposição ou uma posição fragmentada de alguns pefelistas e tucanos, que pode ser revertida.

¿ A oposição está desesperada porque percebeu a recuperação da popularidade do governo ¿ afirmou Lula a um grupo de ministros, acrescentando que a aprovação ao seu governo deve melhorar gradativamente ao longo de 2006.

¿Se esta for uma convicção da oposição não terá jeito¿

Para Lula, integrantes do PSDB e do PFL perceberam que o quadro político pode ficar mais favorável ao governo e voltaram a atacar. Ele mandou emissários sondarem a disposição de caciques da oposição para saber se a disposição para a guerra é generalizada do outro lado ou é posição isolada.

¿ Se esta for uma convicção da oposição não terá jeito ¿ disse Lula nas reuniões, sinalizando que a saída será PT e governo partirem para o ataque.

Lula avalia que a oposição quer sangrá-lo até a eleição para diminuir seu potencial eleitoral.

¿ Se for assim, não vou deixar! ¿ disse o presidente.

As observações de Lula sobre o comportamento da oposição foram feitas após a divulgação da notícia sobre a suposta doação de Cuba para a campanha petista em 2002. Ele conversou com integrantes do gabinete de crise do governo, quando avaliaram que PFL e PSDB iniciaram a semana radicalizando o discurso ao pôr o episódio do suposto financiamento cubano no centro da CPI dos Bingos.

A estratégia do Planalto é alertar a oposição que esse tom bélico na esfera política pode causar instabilidade na economia, e cobrar uma atitude mais responsável. Emissários de Lula já conversam com setores oposicionistas. Recentemente, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chamou o prefeito de São Paulo, José Serra, para uma conversa em Brasília.

Os ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Ciro Gomes (Integração Nacional) também têm mantido contatos com líderes da oposição.

Wagner disse que continuará trabalhando para buscar o entendimento com a oposição. Mas, seguindo a orientação de Lula, deu novo tom ao discurso de reação do governo, caso o comportamento da oposição continue na linha dos ataques desmedidos ao governo e, principalmente, ao presidente.

¿ Vou continuar na minha linha. Se tem algum problema de relacionamento é possível consertar. Mas se há ação deliberada para desgastar o governo pensando em 2006, aí fica mais difícil. Aí não há racionalidade.

Mas as reações mais duras aos ataques da oposição ficarão por conta dos dirigentes e líderes petistas. Wagner justifica.

¿ Não posso pedir ao PT que fique apanhando indefinidamente calado. Não podemos confundir prudência com covardia. Isso a oposição precisa entender ¿ disse Wagner.