Título: PARA OPOSITORES, AGENDA DOS EUA PARA AL NÃO AVANÇA
Autor: Martha Beck e Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 03/11/2005, O Mundo, p. 23

Democratas e analistas criticam idéias do presidente para a região

WASHINGTON. Ao longo de uma série de entrevistas ontem, às vésperas do embarque do presidente George W. Bush para a Cúpula das Américas, na Argentina, vários de seus assessores acabaram confirmando ¿ de forma indireta ¿ uma avaliação feita por parlamentares do Partido Democrata sobre a presença americana no encontro: haverá uma mera reafirmação de propósitos, sem qualquer avanço.

¿ Estamos indo a essa reunião de cúpula com a mesma e cansada retórica. E isso não surpreende, pois esse governo não tem uma política específica para a região, a não ser falar de comércio. E isso não é o suficiente. A Casa Branca continua trabalhando com uma mentalidade: só dá as caras na América Latina em momentos de crise ¿ disse o deputado Bob Menendez, da Comissão do Hemisfério Ocidental da Câmara.

Por sua vez, o líder democrata no Senado, Harry Reid, afirmou:

¿ A América Latina tem sido menosprezada por nosso governo, que só pensa no Iraque. E o presidente Bush continua se recusando a dar um passo adiante, obcecado com a guerra no Iraque que nos custa US$2 bilhões por semana, isto é, muito mais do que nossa atual ajuda à América Latina.

Especialistas se dizem pessimistas

Ao delinear a agenda de Bush na reunião de cúpula, o chefe do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, limitou-se a repetir um velho discurso. Disse que o presidente vai continuar insistindo em incentivar a região a manter uma boa governabilidade, a combater a corrupção e a abrir seu comércio ¿ sendo esta última proposta, segundo ele, a receita dos EUA para o alívio da pobreza.

¿ O Produto Interno Bruto da América Latina cresceu nos últimos anos, mas os índices de pobreza permanecem inaceitavelmente altos ¿ disse ele.

Especialistas se mostraram pessimistas em relação à cúpula. Roger Noriega, ex-subsecretário de Estado para Assuntos Hemisféricos, previu que no máximo acontecerá uma nova enfatização de compromissos já assumidos nas reuniões anteriores, no Canadá e no México:

¿ O melhor que se pode esperar da reunião de Mar del Plata é uma oportunidade de resgatar a agenda de reformas que foi levada pela maré ¿ disse Noriega, hoje pesquisador do American Enterprise Institute, um centro de estudos políticos em Washington.

Outro estudioso, Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, afirmou que a cúpula poderá se tornar ¿um choque entre trens¿, referindo-se às crescentes divergências políticas entre EUA e América Latina.