Título: CÂMARA PEDE QUE PF INVESTIGUE GRAMPOS
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 04/11/2005, O País, p. 5

'A vida democrática no país não pode tolerar escuta clandestina', afirma Aldo Rebelo

BRASÍLIA. As suspeitas de que diversos parlamentares estariam com seus telefones grampeados foram levadas ontem ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que pediu providências ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, solicitando formalmente que a Polícia Federal investigue as denúncias. Aldo disse que grampo deve ser investigado pela PF e que a polícia da Câmara fará apenas o que estiver a seu alcance.

- É um caso de polícia, e o Ministério da Justiça e a Polícia Federal devem tomar as providências. A vida democrática no país não pode tolerar escuta clandestina, seja contra quem quer que seja - disse Aldo.

A deputada Angela Guadagnin (PT-SP), que na última terça-feira foi vítima de uma ameaça de seqüestro, pediu a Aldo que investigue também se seus telefones estão grampeados. Antes dela, os deputados Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Ricardo Izar (PTB-SP) e Eduardo Paes (PSDB-RJ) suspeitaram de grampos e comunicaram o fato a Aldo. ACM Neto entregou ontem à presidência da Câmara um relato sobre suas suspeitas, reafirmando que suas conversas telefônicas estão sendo monitoradas, mesmo que informalmente, por agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Izar, presidente do Conselho de Ética, conversou com Aldo sobre os grampos e funcionários da Câmara já fizeram ontem uma varredura nos telefones do Conselho, sem detectar qualquer tipo de grampo. O diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, informou a Izar que o novo sistema de telefonia da Casa não permite grampos. Além dos telefones do escritório de São Paulo, onde foi localizado grampo, Izar disse ter certeza de que também os de seu apartamento em Brasília estão grampeados. Ele disse não ter idéia de quem faria isso, mas não acredita que seja a Abin.

- Tenho certeza de que não é o governo, nem a Abin. Um órgão tão importante não se preocuparia em grampear um deputado - disse Izar.

Ontem de manhã, Eduardo Paes afirmou que um deputado do PT havia confirmado que funcionários da Abin estariam monitorando semanalmente as conversas dele e de ACM Neto há algum tempo.

- Certamente o Lula não sabe, mas também não sabia dos empréstimos do Marcos Valério - ironizou o tucano.

ACM Neto, no entanto, negou que a fonte que lhe informou sobre os grampos em seus telefonemas tenha sido um petista.

Senadores também se dizem vigiados por adversários

No Senado, a lista de parlamentares que se dizem espionados por adversários parece crescer a cada discurso. Ontem as denúncias partiram dos senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Heloísa Helena (PSOL-AL) e Paulo Paim (PT-RS). O senador petista denunciou que os grampos foram espalhados pelo Congresso. Do plenário ele solicitou à presidência da Casa que faça uma varredura nos telefones dos gabinetes de todos os parlamentares.

- Grampo hoje se pode comprar em qualquer boteco, temos que nos prevenir melhor - disse Paim.

A versão de Paim é a mesma de Heloísa Helena: ambos perceberam que estavam sendo grampeados quando ouviram de terceiros, com riqueza de detalhes, conversas reservadas que tiveram por telefone. A senadora disse que desconfiou que tinha as conversas vigiadas há um mês.