Título: Para oposição, tese do caixa dois governista cai por terra
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 04/11/2005, O País, p. 5

Tucanos e pefelistas dizem que dados mostram corrupção

BRASÍLIA. A oposição considerou que os dados divulgados ontem pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), mostrando que dinheiro público saído do Banco do Brasil abasteceu o valerioduto, jogam por terra o discurso governista de que não houve corrupção e que o esquema entre o empresário Marcos Valério e o PT se limitou à prática do caixa dois eleitoral.

O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou:

- Essa operação, por meio da Visanet e do BB, é mais uma demonstração de que a tese pura e simples de um empréstimo convencional para atender ao caixa dois mostra-se vulnerável. Há uma operação com um banco estatal. Isso é grave. É mais amplo do que caixa dois.

Segundo o relator, pelo menos R$10 milhões saíram do Banco do Brasil para o esquema do empresário Marcos Valério com o PT.

Os oposicionistas foram mais enfáticos:

- Está comprovada a mistura de dinheiro e de interesses públicos e privados pelo PT. É muito sério e a CPI deve cumprir seu papel de indiciar os responsáveis, e enviar o que apurou ao Ministério Público - disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse que o governo vive uma situação insustentável com a revelação:

- É de uma gravidade brutal. É o chamado batom na cueca, mostrando que houve desvio de dinheiro público. Os fatos já eram claros, mas agora foram comprovados. Não há autoridade neste governo que não esteja sob suspeição. Eles são insustentáveis - disse Virgílio.

Entre os governistas, houve críticas à conduta do relator, mas o reconhecimento de que podem ser indícios fortes de desvios. O senador Sibá Machado (PT-AC), também integrante da CPI dos Correios, admitiu que os fatos podem ser prova de corrupção que financiou o caixa dois.

- É grave. Está explicado o valerioduto. Temos que ir até o fim e ouvir os responsáveis. A CPI não pode vacilar ao pedir punições.

Já o deputado Carlos Abicalil (PT-MT) disse que esteve com Serraglio ontem de manhã e não foi informado do teor das declarações que daria à tarde. Segundo o deputado petista, os dados, por si só, não provam que o dinheiro da empresa Visanet, da qual o BB tem cerca de um terço do capital, foram parar nas contas do PT.

- Concluir que o dinheiro foi parar nas contas do PT é um salto interpretativo para além do que a documentação poderia comprovar - ponderou o petista Abicalil. - Há pontos que precisam ser esclarecidos. Lamento que o relator tenha sido imprudente. Se não confirmar o que disse, cria um problema que joga em descrédito o conjunto da CPI. A serenidade seria a melhor atitude.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também criticou Serraglio. Segundo ela, a CPI deve prosseguir na apuração e não entrar num clima de denúncias apressadas em busca de manchetes.

- Se for esse clima de quem faz a manchete com mais estardalhaço, não ajuda. O assunto nos preocupava havia tempos e merecia atenção. Eram depósitos altos e o requerimento de quebra de sigilo da Visanet e de outras empresas partiu da bancada do governo - disse a senadora. - Não estou desqualificando os fatos. Mas num primeiro momento é uma coisa e depois as investigações, com o andar da carruagem, podem mostrar que é outra.

"Lamento que o relator tenha sido imprudente. Se não confirmar o que disse, joga em descrédito a CPI "

CARLOS ABICALIL

Deputado (PT-MT)

"É de uma gravidade brutal. É o batom na cueca, mostrando que houve desvio de dinheiro público"

ARTHUR VIRGÍLIO

Líder do PSDB no Senado