Título: ALERTA CONTRA CARRAPATO
Autor: Célia Costa/Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 04/11/2005, Rio, p. 13

Febre maculosa é confirmada e especialista alerta sobre risco de doença se espalhar

Com a confirmação laboratorial de dois casos de febre maculosa em Itaipava, em Petrópolis, a especialista Leila Barci, pesquisadora do Instituto Biológico de São Paulo, alerta para a possibilidade da doença se espalhar pelo estado. Segundo ela, o controle é muito difícil porque não há como impedir que os animais com carrapatos infectados pela bactéria Rickettisia rickettsii se locomovam. Em São Paulo, após o surgimento de casos nos municípios de Pedreira e Campinas, a doença chegou a cidades mais próximas da capital. Ontem, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou que o superintendente da Vigilância Sanitária do Rio, delegado Fernando Villas-Boas, que morreu na última segunda-feira, foi vítima da doença. Uma turista baiana, que, como o policial, também se hospedou no Hotel Capim Limão, apresentou a febre, mas, tratada a tempo, já se recuperou.

Juarez Dias, da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde da Bahia, disse que a moradora de Salvador, que pediu para não ter o nome divulgado, chegou ao hotel no dia 2 de setembro. Dois dias depois, ela fez um passeio com o marido por uma trilha, pisou num buraco e ficou com carrapatos. De volta a Bahia, começou a apresentar os primeiros sintomas da febre no dia 10. Ela relatou ao médico que tinha sido picada por carrapatos e recebeu medicação adequada.

Segundo a epidemiologista Elba Lemos, da Fiocruz, o primeiro exame de sangue de Villas-Boas deu negativo, mas a segunda amostra, coletada no 18º dia após a infecção, deu positivo. Ainda estão sendo investigados dois outros casos suspeitos, o do jornalista Roberto Moura, que morreu no dia 26 de outubro, e o de um professor aposentado que continua internado em estado grave no Hospital São Lucas, em Copacabana. Eles também estiveram no Capim Limão.

Equipes coletam sangue para exame

Ontem, equipes da Vigilância Sanitária e das secretarias de Saúde e Turismo de Petrópolis, da Fiocruz e do Ministério da Saúde estiveram em Itaipava e Corrêas para traçar estratégias de combate ao carrapato na região. Após uma reunião, os técnicos foram a um terreno na Estrada União Indústria, nos fundos do Hotel Capim Limão, recolher amostras de sangue de moradores e animais.

No lugar foram encontrados carrapatos em cavalos e cachorros de uma família de sete pessoas. Os insetos foram recolhidos num tubo de ensaio por funcionários da Fiocruz e serão analisados. Apesar da infestação, ninguém da família até agora apresentou sintomas da febre maculosa. Para a dona-de-casa Tânia Regina Pinho, moradora do terreno, a visita dos especialistas foi um alívio:

- Fiquei com muito medo quando soube da doença do carrapato pela TV. Tenho crianças. De vez em quando somos picados por carrapatos, mas nós tiramos logo. Vamos sempre fazer exames - disse.

De acordo com o diretor da Vigilância Epidemiológica da Secretaria estadual de Saúde, Aloisio Ribeiro, na terça-feira e no feriado foram recolhidas amostras de sangue de mais de 40 pessoas (incluindo funcionários do hotel) e 92 animais num raio de dois quilômetros do hotel. Todas a amostras foram enviadas para a Fiocruz.

Elba Lemos disse que os casos de febre maculosa registrados até agora não caracterizam epidemia. Ela explicou que a doença tem cura e é de fácil tratamento com antibióticos. A epidemiologista disse ainda que não há vacina contra a enfermidade:

- Não temos epidemias. O que temos são pequenos aglomerados de incidência do carrapato - disse, acrescentando que já houve casos da doença em Miguel Pereira, Vassouras, Valença, Três Rios, Conservatória e Barra do Piraí, há alguns anos.

www.oglobo.com.br/rio