Título: EUA tentam reduzir risco de atrito com Chávez
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 04/11/2005, O Mundo, p. 27

Assessores traçam plano para Bush não cruzar com presidente venezuelano. Ordem é evitar aproximação física

WASHINGTON. Diplomatas e estrategistas políticos do governo dos Estados Unidos traçaram um cuidadoso plano de ação para o presidente George W. Bush, que chegou ontem à noite a Mar del Plata, na Argentina, para a Cúpula das Américas. O objetivo é evitar qualquer aproximação física dele com o seu colega venezuelano, Hugo Chávez.

- O ideal seria que eles sequer aparecessem numa mesma fotografia - disse um funcionário americano ao GLOBO.

Palavras medidas e visões diferentes

Ao mesmo tempo, os componentes da delegação americana foram instruídos a medir bem as suas palavras ao se referirem ao governo da Venezuela em conversas com jornalistas. O propósito é evitar que o evento se transforme num duelo Bush-Chávez.

- Essa viagem, essa cúpula não é a respeito de Hugo Chávez. Vocês é que nos fazem perguntas a respeito. Temos antigas preocupações com a política adotada pelo governo dele. Mas isso não é novidade - disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, demonstrando a inquietação que envolve a estada de Bush na Argentina.

Tom Shannon, o novo secretário de Estado assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental (como os EUA chamam o continente americano), deixou claro que Bush não trocará uma palavra sequer com Chávez. O presidente americano tentará fomentar "uma visão compartilhada pela maioria para o continente, com base na democracia, em mercados livres e livre comércio", disse Hadley. Ele não deverá criticar diretamente as posições que Chávez defende, e que são definidas pelo governo americano como "populistas e retrógradas".

O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, deu uma clara demonstração do espírito que envolve a viagem de Bush, ao ser perguntado, em entrevista coletiva, se o governo americano achava que Chávez não governa a Venezuela democraticamente. Ele simplesmente respondeu:

- Já falamos sobre isso muitas vezes no passado.

Shannon foi mais claro:

- Nossos respectivos governos têm visões muito distintas para o continente. Nós vemos um futuro de cooperação continental, fortalecendo as instituições democráticas, melhorando a segurança nacional e estimulando a prosperidade econômica e a oportunidade para todos - disse ele.

Uma posição reforçada por contraste

Em seguida, ao completar a sua declaração, ele mostrou que embora a divergência de opiniões seja grande, a idéia - pelo menos em Mar del Plata - é reforçar a posição americana por contraste, mas sem mencionar diretamente a vulnerabilidade das propostas de Chávez, que o próprio Shannon tentou esboçar:

- O governo venezuelano parece advogar um modelo econômico enraizado em políticas estatizantes e protecionistas do passado, que não proporcionaram prosperidade ou desenvolvimento. Nós continuaremos (na Cúpula das Américas) a falar bem alto em favor de nossa visão - afirmou o secretário de Estado assistente.

Legenda da foto: BUSH E LAURA desembarcam do Air Force One em Mar del Plata: inquietação diante da visita do presidente dos Estados Unidos à Argentina