Título: `Não aceitamos lição de moral de tucano¿
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 06/11/2005, O País, p. 12

O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, decidiu usar novamente o velho estilingue do partido, sob suspeita de corrupção, e partir logo para a guerra contra PSDB e PFL. Berzoini diz que não tem mais paciência para manter o partido na defensiva e disse que a oposição está desesperada, tendo passado dos limites ao ameaçar surrar o presidente Lula. Diz que o caixa dois não é um problema exclusivo do PT, mas da política brasileira. Para ele, a expulsão do ex-tesoureiro Delúbio Soares pôs uma pá de cal nas denúncias contra seu partido. Berzoini se recusou a comentar a denúncia do relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), sobre suposto desvio de recursos do BB para o PT pelo esquema de Marcos Valério.

Como o senhor avaliou as ameaças de surra no presidente Lula?

RICARDO BERZOINI: Acho patético. Parlamentares que têm respeito pelo eleitor não devem nunca usar esse linguajar. Evidentemente, isso revela o desespero da oposição. A todo momento tem sido isso, apesar da paciência do PT, que tem sido achincalhado. Até confesso, temos tido uma paciência demasiada. Muitos filiados nos cobram uma reação mais dura, mas temos dado demonstração de paciência demasiada porque a democracia exige isso. Mas estão passando dos limites.

Parece que a sua paciência também está no limite, não?

BERZOINI: É que paciência não é complacência. Não vamos permitir que a honra e a história do PT sejam achincalhadas por pessoas ligadas a governos antidemocráticos ou governos que sempre operaram para impedir investigações. Não vamos aceitar esse tipo de ataques rasteiros sem respostas.

Na semana passada, no programa gratuito na TV, o governador Geraldo Alckmin propôs "menos discurso, menos corrupção, menos impostos..."

BERZOINI: Primeiro é bom lembrar que quem aumentou a carga tributária foram os tucanos. Com Fernando Henrique, a carga saltou de 25% para 34% do PIB. Em segundo lugar, falar em corrupção com os Ricardos Sérgios da vida... Aqueles que agiram no limite da irresponsabilidade com as privatizações não podem criticar o PT. Em terceiro lugar, não adianta o PSDB tentar posar de governo eficiente se em 1998 quebrou o Brasil e só foi salvo pelo FMI, assim como em 2002. E nós colocamos ordem na casa. Não aceitamos lição de moral de tucano querendo posar de eficiente.

Será uma onda de reações severas do PT?

BERZOINI: Não queremos tratar como reação. O PT não pode deixar de cumprir seu papel de defender sua história e seus interesses.

Quando se fala em história do PT, remete-se sempre ao velho estilingue. O senhor tem saudades dele?

BERZOINI: Eu acho que na política todos são estilingue e todos são vidraça. Ninguém está a salvo de levar nem de dar estilingadas. O que todos precisam saber é o tamanho da sua capacidade de conviver com esse mundo político. Tem gente que gosta de bater muito, mas não quer apanhar. O PT vai fazer a luta política com democracia e dignidade, sem perder as estribeiras, como alguns políticos têm feito, tão pateticamente.

E como é que vai ser a reação? O senhor tem falado muito em ir à Justiça. E no Congresso? Haverá mesmo uma reação do corpo partidário?

BERZOINI: Na verdade, a disputa no Parlamento será a mais fundamental e faremos isso com muita firmeza.

O PT usará esse tom na campanha para 2006?

BERZOINI: Não será o tom que o PSDB quer. Será um tom sóbrio, equilibrado, mas, ao mesmo tempo, mostrando a verdade. O PT recuperou o Brasil que os tucanos quebraram. E o PFL também. O PFL foi o responsável pelo apagão.

O PT até hoje não conseguiu explicar bem o seu caixa dois. Como vai estar em condições de pedir votos ou mesmo de fazer ataques à oposição?

BERZOINI: O caixa dois não é um problema do PT, mas da política brasileira. Ao crescer e disputar em igualdade de condições, acabou, de maneira equivocada, tomando decisões equivocadas por causa do ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Mas pouco se apurou internamente. O senhor não acha que faltam explicações?

BERZOINI: O Delúbio foi expulso do partido.

Somente ele. Mas e o esquema dele, foi extinto?

BERZOINI: O senador Eduardo Azeredo foi apenas afastado da presidência.

Mas os deputados suspeitos podem ser candidatos já em 2006, não?

BERZOINI: É preciso separar a situação no Congresso e no partido. O erro de cada um deve ser examinado segundo sua história. O PT não vai ser mais realista que o rei.

O publicitário Marcos Valério declarou esta semana que o PT tem mais arrecadores. Isto não o assusta?

BERZOINI: Não. Mas no grau de irresponsabilidade que ele e Delúbio agiram, duvido que existam similares.

O senhor acha que a verdade nunca virá à tona? Quem alimentou afinal o caixa dois? Ou o PT vai colocar uma pedra no assunto?

BERZOINI: Não é pedra no assunto. Internamente não há como investigar, não há mecanismos. Delúbio afirma que foram empréstimos. E as operações não fazem parte da nossa contabilidade. É ilegalidade pura.

E essa estrutura não pode persistir no partido?

BERZOINI: Só se houver leniência no partido. E eu como presidente não aceitarei.