Título: `Há uma antecipação acintosa do processo eleitoral¿
Autor: Martha Beck e Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 06/11/2005, O País, p. 13
O novo acirramento de ânimos entre governo e oposição, na avaliação da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), é fruto da antecipação do processo eleitoral do próximo ano. Ela diz acreditar que esse clima de confronto poderá prejudicar tanto petistas quanto tucanos, mas especialmente o país.
Como a senhora está vendo esse novo acirramento de ânimos entre governo e oposição, mais especificamente entre PT e PSDB?
IDELI SALVATTI: O acirramento tem, indiscutivelmente, um ingrediente eleitoral. Há uma antecipação acintosa do processo eleitoral e os nervos estão muito à flor da pele. Desde a semana passada, já está clara a decisão da oposição de voltar suas baterias para o presidente Lula, o que contribuiu para piorar o clima.
Neste quadro, quem perde mais, o governo ou a oposição?
IDELI: Perdemos todos. Principalmente o país. Com o acirramento, se perde a civilidade, a noção do limite e a condição de manter os canais de diálogo. Acabamos tendo um prejuízo em termos de produção. Produção em termos investigativos, uma vez que neste clima não se investiga, só se denuncia. E se perde também em termos de produção legislativa.
O resultado da CPI dos Correios poderá ser comprometido?
IDELI: Toda vez que há acirramento, as pessoas estão preocupadas com o que é divulgado, com as versões, e não com a apuração.
É uma prévia do nível da campanha eleitoral a que assistiremos no próximo ano? Um nível mais baixo, com muitos ataques?
IDELI: Não é uma prévia. O processo eleitoral já começou.
A senhora teme que essa radicalização abra espaço para candidatos de outros partidos, até mesmo daqueles sem maior expressão, como ocorreu em 1989?
IDELI: Esse risco pode ocorrer, sim. O que todos temos de estar atentos é que esse tipo de processo não interessa a ninguém. Principalmente, não interessa ao país.