Título: DO BANCO DOS RÉUS À TRIBUNA DE ACUSAÇÃO
Autor: Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 06/11/2005, O País, p. 15

Jefferson auxiliará promotoria em julgamento de pistoleiro em Mato Grosso

CUIABÁ (MT). Recluso desde que teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) tem data e lugar para sua reaparição pública: 11 de novembro, em Mato Grosso. Em seu primeiro júri popular desde que voltou a advogar, ele aceitou atuar de graça como assistente da acusação no julgamento do empresário Vilmar Taffarel, acusado da morte da estudante Keila Alba, assassinada aos 12 anos em novembro de 2001. O crime aconteceu em Vera, município a 468 quilômetros ao norte de Cuiabá.

¿ Foi um crime bárbaro, de uma insensibilidade brutal. Quero muito ajudar a família ¿ disse o ex-deputado.

Keila era filha do então vereador Augusto Alba (PPS), que, segundo as investigações, seria o verdadeiro alvo dos assassinos. O vereador era o maior opositor da então prefeita Isane Konerat (PSDB). As investigações concluíram que Vilmar, irmão da prefeita, foi o mentor do crime.

Alba começou a pensar em Jefferson para assistente de acusação durante seus depoimentos na Comissão de Ética da Câmara e nas CPIs:

¿ Fiquei impressionado com sua capacidade de argumentação. Vi que ele poderia me ajudar a condenar os assassinos de minha filha.

Aliado político do deputado federal Ricarte de Freitas (PTB) no norte de Mato Grosso, Alba pediu que ele intermediasse um contato com Jefferson.

¿ Minha parte na história foi aproximar os dois. Fico feliz de saber que eles se acertaram ¿ disse Freitas.

Keila foi assassinada às 21h de 24 de novembro de 2001, em sua casa. O pistoleiro, Charles da Silva, de bermuda e camiseta, bateu à porta pedindo água. Depois de ouvir o pedido, Keila entrou e disse ao pai que estava com medo. Alba saiu e foi baleado, mas voltou agachado para casa. Um dos seis tiros disparados pelo assassino, que confessou o crime e aguarda preso o julgamento, atingiu o peito da garota. O crime já foi mostrado no programa ¿Linha Direta¿, da Rede Globo.

O crime estaria relacionado às denúncias que o vereador fazia contra a prefeita. Alba denunciava a contratação irregular de servidores temporários, fraude nas prestações de contas de obras financiadas pelo governo estadual e o excessivo uso de máquinas da prefeitura por fazendeiros. O Ministério Público concluiu que, sentindo-se prejudicado, o irmão da prefeita contratou o pistoleiro. O caseiro Isaías Galdino e o empresário Tarcício Ribas Thielsen atuaram como intermediários, segundo o Ministério Público, e também estão denunciados. Apenas Thielsen aguarda em liberdade.