Título: FRIGORÍFICOS MIGRAM PARA FUGIR DA FEBRE AFTOSA
Autor: Gerlada Doca
Fonte: O Globo, 06/11/2005, Economia, p. 35

Empresas investem mais em áreas de produção em Goiás e Mato Grosso para cumprir contratos de exportação

BRASÍLIA. Goiás e Mato Grosso já ocupam espaços deixados por grandes exportadores, como São Paulo e Mato Grosso do Sul, devido aos embargos impostos com o reaparecimento da febre aftosa. Segundo representantes do setor privado, existe até a aposta no aumento das exportações de carne bovina desses dois primeiros estados a partir deste mês.

Os frigoríficos estão remanejando para a região, livre da doença, a produção de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, áreas vetadas pela maioria dos importadores, a fim de cumprirem os contratos de exportação. São vendas destinadas, sobretudo, à União Européia (UE), o maior comprador de carne brasileira. A estratégia é manter as fábricas localizadas nas zonas embargadas para atender ao mercado interno e aos países que impuseram vetos parciais, como a Rússia, que restringiu apenas os embarques de Mato Grosso do Sul.

O Friboi, o maior exportador brasileiro, informou que a unidade de Campo Grande (MS) passou a produzir apenas carne in natura para o mercado local. Em contrapartida, o frigorífico aumentou a produção nas unidades de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Rondônia para atender ao mercado externo. Segundo a empresa, seus contratos de exportação não foram afetados.

Nem férias coletivas, nem demissões. O frigorífico Bertin, outro grande exportador, informou que está redirecionando parte da produção para Mozarlândia (GO), Ituiutaba (MG), Votuporanga (SP), Itapetinga (BA) e Marabá (PA) para vender ao exterior. O número de abates nas unidades de Lins (SP) e Naviraí (MS) caiu pela metade. Embora tenha paralisado as atividades no Paraná e em Mato Grosso do Sul, o grupo Margen aumentou em 20% o volume de produção em Rio Verde e Goianira (GO), para 1.200 abates por dia, cumprindo contratos com importadores europeus.

Edivar Vilela de Queiroz, um dos sócios do Minerva, diz que nos próximos dias vai dobrar a produção da fábrica de Palmeiras de Goiás (GO). A unidade, segundo ele, está sendo preparada para aumentar o número de abates, com a mesma finalidade: vender para o exterior. A estratégia é seguida por outros frigoríficos, como o Marfrig, que concentrou a produção na fábrica de Paranatinga (MT), e o Quatro Marcos, que aposta na unidade de São José de Quatro Marcos, no mesmo estado. Todas as empresas estão entre as dez maiores exportadoras.

¿ Está havendo uma reestruturação no setor e as perdas ocorridas nas exportações de carne poderão ser recuperadas rapidamente ¿ acredita o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, Antonio Camardelli, para quem o quadro vai se normalizar no próximo mês, caso não apareçam novos focos.

¿ É natural que haja uma articulação interna e estados que estão livres da doença passem a exportar mais ¿ afirma o diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Jorge Caetano.

Para Jerry O'Callaghan, diretor da Unidade de Carne da Coimex Trading, uma das maiores de São Paulo, os prejuízos ao comércio exterior causados pelo reaparecimento da doença no Brasil podem ser menores do que as estimativas divulgadas.

Já o presidente do Sindicato da Indústria do Frio de São Paulo (Sindifrio), Hélio Carlos de Toledo, diz que os frigoríficos estão monitorando os abates para não gerar um excedente de carne no mercado doméstico e com isso derrubar a cotação da arroba do boi.