Título: Promessas daqui e de lá
Autor: Eliane Oliveira e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 07/11/2005, O País, p. 3

Bush fala em eliminar subsídios agrícolas e Lula diz que pode ajudar americano com Chávez

Em sua primeira visita oficial ao Brasil, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua disposição de eliminar os subsídios agrícolas que dificultam as exportações das nações em desenvolvimento, desde que outros parceiros, como a União Européia, façam o mesmo. Em compensação, depois de uma reunião reservada de hora e meia na Granja do Torto com Lula, Bush deixou Brasília com a convicção de que o Brasil vai atuar como intermediário para melhorar a animosidade entre ele e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Bush e Lula conversaram sobre a situação na Venezuela e o americano destacou o bom trânsito de seu colega brasileiro junto aos países da região. Embora não tenha ouvido uma promessa formal de Lula de intermediar uma aproximação dos EUA, o americano recebeu sinalização positiva.

¿ Brasil e EUA já trabalharam juntos, no Grupo de Amigos da Venezuela, e nada impede que atuemos juntos mais uma vez. Acho que, com o tempo, podemos ajudar ¿ disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao fazer um relato do encontro.

Bush acena com aliança na OMC

Ao falar sobre a redução de subsídios agrícolas, Bush praticamente anunciou o início de uma aliança entre Brasil e EUA nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), conhecidas como a Rodada de Doha, lançada no fim de 2002, no Qatar. Os brasileiros poderão contar com os americanos na briga com europeus e japoneses, os que mais resistem a abrir seus mercados.

¿ A melhor maneira de contribuir para a redução da pobreza será com avanços nas negociações sobre a Rodada de Doha. Ouvi seu recado. Os EUA estão dispostos a reduzir os subsídios agrícolas se recebermos o mesmo tratamento dos países europeus. Se baixarmos os subsídios, eu gostaria de dizer aos produtores em meu país que eles também terão acesso ao mercado europeu ¿ disse Bush a Lula.

O americano voltou a defender a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Ele disse ter compreendido a posição de Lula, que prefere esperar o resultado da OMC. Mas enfatizou que é preciso avançar no acordo hemisférico, para melhorar a competitividade frente a outros países.

¿ Há oportunidade para avançarmos na área de comércio externo. Precisamos trabalhar juntos para concorrer com países como Índia e China. O povo do Brasil tem que compreender que um acordo tão importante não será feito se o presidente Lula não entender que é do interesse do povo. Ele tem de estar convencido, assim como o povo americano, de que o acordo no hemisfério é bom para gerar empregos e melhorar a qualidade de vida ¿ disse Bush.

Lula reforçou:

¿ Estamos empenhados em eliminar, de forma negociada, entraves injustificados em nosso comércio bilateral. A conclusão exitosa da Rodada de Doha, até o fim de 2006, é prioridade tanto dos EUA quanto do Brasil.

Sobre a busca do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança das ONU, uma fonte do governo brasileiro revelou que, durante o encontro, o presidente dos EUA disse que seu país não se oporá à formalização da candidatura. Frisou que os americanos, até agora, só apóiam publicamente o Japão, devido a compromissos de administrações anteriores.

¿Temos obrigação de trabalhar juntos¿

Em seu pronunciamento na Granja do Torto, o presidente dos EUA destacou a liderança do Brasil na região e sua atuação em outros países, como os africanos:

¿ Somos as duas maiores democracias do mundo. Portanto, temos obrigação de trabalhar juntos para promover a paz e a prosperidade.

Os pronunciamentos foram marcados por elogios. O presidente dos EUA se disse impressionado com as recentes reformas econômicas no Brasil, com as políticas para estimular o crescimento das exportações e com o comprometimento de Lula com o ¿sentimento do povo¿, referindo-se ao Fome Zero. Já Lula afirmou que a visita de Bush é ¿uma oportunidade de diálogo estratégico e privilegiado¿ para assuntos bilaterais.

¿ O presidente Bush e eu temos a mesma visão otimista sobre nossas relações bilaterais. Seu aperfeiçoamento é um legado que devemos deixar aos que virão depois.