Título: ÍNDIA PRESSIONA OS ESTADOS UNIDOS POR REDUÇÃO DE SUBSÍDIOS AGRÍCOLAS
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Fonte: O Globo, 07/11/2005, Economia, p. 19

Brasil também fará pressão sobre UE e EUA em encontro hoje em Londres

NOVA DÉLHI. O secretário do Tesouro americano, John Snow, começou ontem uma visita de quatro dias à Índia, para fortalecer laços comerciais e ampliar a cooperação econômica entre os dois países. Snow também vai fazer campanha pela liberalização do setor financeiro indiano. Mas terá de enfrentar um pedido de contrapartida: a Índia avisou que fará pressão para que os EUA reduzam os subsídios aos produtores agrícolas. A Índia é um dos líderes do G-20, grupo de países emergentes, junto com Brasil e China. Brasil e Índia vão se reunir hoje em Londres com representantes dos Estados Unidos e da União Européia (UE).

A agenda de Snow começou por Mumbai, o coração financeiro da Índia, onde visitará a Bolsa de Valores. Na quarta-feira ele vai para a capital, Nova Délhi, onde se reunirá com o ministro da Economia, P. Chidambaram, disse ontem o porta-voz da Embaixada americana no país, David Kennedy.

Snow quer mais liberdade no setor financeiro da Índia

A Índia e os EUA fecharam em julho um acordo sobre uma parceria estratégica de cooperação em assuntos militares e troca de informações sobre uso civil de energia nuclear e pesquisa espacial, agrícola e de novas tecnologias.

Snow também vai tentar convencer a Índia a dar mais liberdade para empresas estrangeiras investirem no setor financeiro, em plena expansão no país.

A abertura dos setores financeiro e de serviços tem sido usada como moeda de troca pelos países industrializados para negociar reduções nas tarifas de importação de produtos agrícolas. As nações ricas insistem em mais acesso nos setores financeiro e de serviços antes de abrirem seus mercados aos produtos dos países emergentes.

Mas a Índia vai pressionar os EUA na reunião, hoje, em Londres, com o representante de Comércio da Casa Branca, Rob Portman, o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, e ministros brasileiros. O objetivo do encontro é resolver as disputas sobre as questões agrícolas para destravar as negociações de comércio globais.

¿ Gostaríamos de ver o dinheiro que vai para os fazendeiros americanos diminuir. Não é o que está acontecendo agora ¿ disse Gopal Pillai, diretor de Política Comercial do Ministério do Comércio indiano.

Há duas semanas, os EUA propuseram reduzir seus subsídios em 60%. Mas a Índia e outros países afirmaram que isso não resultaria em uma redução significativa da ajuda aos fazendeiros, porque o percentual foi calculado em cima do montante que o governo tem permissão para gastar com subsídios, não com o valor real gasto.

Pillai não disse qual o percentual de corte que a Índia vai buscar hoje.

¿ Vamos tentar conseguir o máximo possível.

Tarifas de importação causam polêmica

Segundo Pillai, a reunião de hoje também tentará chegar a um consenso sobre as tarifas de importação de produtos agrícolas. A UE ofereceu um corte mínimo de 35% e máximo de 60%, mas os EUA defendem 85%, enquanto vários países africanos querem limitar as reduções a 45%.

¿ Estamos tentando reduzir as diferenças ¿ disse o representante de Comércio indiano.

Os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) têm de delinear um acordo antes da reunião ministerial em Hong Kong, de 13 a 18 de dezembro. Na ocasião, a OMC tentará fechar um acordo global de liberalização do comércio, com ênfase nos países em desenvolvimento, para os quais a questão agrícola é crucial.