Título: Mais de 1.400 ligações para assessor de Palocci
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 08/11/2005, O País, p. 10

Um dos autores da denúncia de que PT teria recebido dinheiro de Cuba, Poleto ligava para Ademirson

BRASÍLIA. Pivô da denúncia de que o PT teria recebido dinheiro de Cuba na eleição, o economista Vladimir Poleto terá que explicar à CPI dos Bingos no Senado por que mantinha contato telefônico intenso com Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor especial do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Segundo dados da quebra de sigilo de Poleto em poder da comissão, os dois se falaram 1.434 vezes de março de 2003 até agosto deste ano, mais de 51 horas de conversas. O que mais chamou a atenção da CPI foi o fato de que a maioria dessas chamadas (1.229) foi feita ou recebida por um celular registrado em nome da Presidência da República, que segundo a comissão fica com Ademirson, mas também era usado por Palocci para atender autoridades e jornalistas.

CPI vai cruzar datas das ligações com acontecimentos

Os dados da quebra de sigilo mostraram ainda uma ligação de Poleto para a casa de Palocci, em Brasília, no dia 28 de junho de 2003, um sábado, com duração de 3m47s. Poleto foi apontado pela revista ¿Veja¿ como responsável pelo transporte de uma quantia, de US$1,4 milhão a US$3 milhões, vinda do governo de Cuba para a campanha de 2002 do PT.

Ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, Poleto, segundo a revista, disse, e depois recuou, ter carregado a quantia em caixas de uísque. Ele prestará depoimento na próxima quinta-feira na CPI dos Bingos. O economista não retornou a ligação do GLOBO. O Ministério da Fazenda informou que não iria se manifestar sobre o assunto.

As ligações descobertas pela CPI mostram que Poleto ligou 919 vezes para o telefone usado por Ademirson e recebeu dele 515 ligações. Além do telefone da Presidência, Ademirson usava, segundo a comissão, outro telefone, registrado como sendo da Coordenadoria de Recursos Humanos e Logística do Ministério da Fazenda. O trabalho da CPI agora será cruzar as datas das ligações com as de acontecimentos-chaves nas principais investigações em andamento, como as de corrupção nas prefeituras do interior paulista.

A CPI também descobriu ligações entre o advogado Rogério Buratti, acusado de tráfico de influência junto a Palocci e de corrupção, e o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, afastado do cargo depois da divulgação de que recebeu de presente uma caminhonete Land Rover da GDK Engenharia, uma empresa que presta serviços à Petrobras. Foram sete chamadas concentradas em agosto e setembro de 2003, cerca de sete minutos de conversa no total. Buratti e Silvinho estão convocados para prestar novos depoimentos em datas ainda não marcadas.

CPI ouvirá viúvas de prefeitos assassinados

Hoje, a CPI ouve as viúvas de dois prefeitos do PT assassinados: Roseana Morais Garcia, viúva do prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT; e Ivone Santana, companheira do prefeito de Santo André Celso Daniel.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse ontem que vai consultar um a um os senadores do partido para decidir sobre uma possível convocação de Palocci à CPI dos Bingos para explicar a viagem de carona no jatinho do empresário Roberto Colnaghi, dono do mesmo avião que teria sido usado para transportar dinheiro de Cuba para o PT no Brasil.

O ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem hábeas-corpus a Poleto, que poderá ficar calado na CPI dos Bingos diante das perguntas dos parlamentares e não terá a obrigação de dizer apenas a verdade quando quiser se manifestar.

O economista também obteve o direito de ser acompanhado por um advogado na sessão, além da garantia de não ser preso em flagrante pelos membros da CPI por falso testemunho.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que não há qualquer denúncia feita durante a gestão Palocci que mereça a atenção de CPIs neste momento.

¿ Acho muito pequena esta atitude ¿ disse ele, que defende, porém, que tudo seja investigado a fundo e que ninguém seja poupado ou perseguido.

¿ Nós temos que apurar tudo que for necessário, mas a economia tem que ser preservada da crise porque, no final de tudo, quem paga a conta é o povo, o trabalhador, os salários, os investimentos, as empresas. Eu acho que precisamos ter responsabilidade pública e deixar a campanha para o momento da campanha ¿ conclui.

COLABOROU: Lydia Medeiros