Título: `ESTA ALIANÇA É UM PACTO DOS DESESPERADOS¿
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 08/11/2005, O País, p. 12

Brasilianista diz que Lula e Bush, enfraquecidos, procuram desviar atenção dos problemas de seus próprios países

¿É um pacto de desesperados¿, disse o professor Kenneth Maxwell, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Harvard, analisando a aliança dos presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva, alinhavada domingo no encontro em Brasília, segundo a qual Bush trabalharia pelo corte de subsídios agrícolas e Lula serviria de intermediário nas tensas relações entre EUA e Venezuela.

O que pode resultar da nova aliança política entre Brasil e Estados Unidos?

KENNETH MAXWELL: Acho que é um pacto dos desesperados. Os dois presidentes estão tão enfraquecidos internamente que andam à procura de qualquer coisa para desviar as atenções dos problemas em seus próprios países. Se tivesse acontecido há dois anos, ainda poderia ter resultados. Os Estados Unidos passaram os dois mandatos de Bush sem prestar a menor atenção na América Latina, só voltados para terrorismo, Iraque. Agora tentaram uma aproximação nessa cúpula mas Bush estava completamente despreparado.

Acha que Bush está sendo sincero quando diz que vai defender o Brasil na briga pelo corte de subsídios agrícolas?

MAXWELL: É verdade que os Estados Unidos vêm se preparando para cortar subsídios na agricultura, mas estão falando isso já há cinco anos. É preciso ver melhor se vão concretizar alguma coisa. Tenho a impressão que os EUA perceberam que eles também podem ganhar com o fim dos subsídios agrícolas na Europa. Os EUA, como o Brasil, são um grande país exportador de produtos agrícolas.

Acha que a candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU pode ter avançado depois da conversa de Lula com Bush?

MAXWELL: Acho que sim. Se os EUA estão interessados nessa aliança política com o Brasil, o Conselho de Segurança da ONU pode ser uma contrapartida. Mas é preciso esperar mais, há outros países envolvidos e os Estados Unidos estavam contra o princípio de aumentar o Conselho.

O senhor acha que fracassou a reunião de cúpula?

MAXWELL: Fracassou é um termo forte demais, mas acho que provavelmente os presidentes saíram mais irritados do que se aproximaram. Essa reunião de cúpula foi inventada para demonstrar interesse pela América Latina. Mas o presidente não foi bem aconselhado por seus assessores e, provavelmente, não sabia de todas as resistências à Alca entre os latino-americanos. A Alca não tem apoio nem no Congresso americano. Mas é sempre positivo Bush ir ao Brasil para saber alguma coisa do país.

Nem do ponto de vista interno para os presidentes dos dois países a cúpula funcionou?

MAXWELL: Aqui nos Estados Unidos a cúpula não teve repercussão alguma. Ontem eu li no ¿New York Times¿ um artigo na página 9 e aqui em Boston saiu na página 14 do jornal. Os Estados Unidos precisam mudar de atitude em relação à América Latina, se querem ter resultados precisam ter uma política para o continente.