Título: VARIG: FUNCIONÁRIOS AMEAÇAM NÃO VOTAR PLANO DE SOCORRO, MAS VOLTAM ATRÁS
Autor: Cristina Massari e Mirelle de França
Fonte: O Globo, 08/11/2005, Economia, p. 23

Comitê foi recebido no BNDES. Empresa tem de pagar `leasing¿ amanhã

O clima esquentou ontem na Varig, ameaçando a aprovação do plano de salvamento da companhia aérea. Depois de se reunirem durante três horas com o vice-presidente do BNDES, Demian Fiocca, entre a tarde e a noite, os sindicatos que representam os funcionários da Varig finalmente concordaram em votar a favor da proposta do banco, que prevê a venda da VarigLog e da Varig Engenharia e Manutenção (VEM) para a portuguesa TAP. No início da assembléia, de manhã, os credores trabalhistas pediram o adiamento da sessão para avaliar detalhes. A votação foi suspensa e um comitê partiu para a sede do BNDES.

Após a reunião com o BNDES, a assembléia de credores foi retomada na sede da Fundação Ruben Berta, controladora da Varig, na Ilha do Governador, mas no fim da noite a votação ainda não tinha terminado.

A Varig corre contra o tempo: precisa pagar amanhã uma dívida de pelo menos US$72 milhões com empresas de leasing dos EUA. Se não pagar, poderá ter arrestados de 20 a 40 aviões ¿ a frota é de 63 aeronaves.

¿ Existem empresas de leasing que acenam com a possibilidade de retomar os aviões mesmo com o pagamento. Mas havia a certeza do arresto se o pagamento não fosse efetuado. Diante disso, a tendência então é de os sindicatos apoiarem a venda. E apostar no processo de recuperação que passa pela TAP, entre outros investidores ¿ disse Cláudio Toledo, consultor econômico do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

Toledo garantiu que a proposta receberia o apoio do fundo de pensão Aerus e da Infraero, após esclarecimentos prestados também pelo presidente da TAP, Fernando Pinto:

¿ Ele explicitou que o objetivo da TAP é a participação na Varig. As duas subsidiárias (VarigLog e VEM) têm relação umbilical com a Varig, já que 75% do movimento delas estão casados com a operação da Varig. Se ela quebrar, então a TAP fica com dois micos nas mãos. Este argumento serviu para nos sensibilizar minimamente.

O BNDES informou que manteve a proposta apresentada no mês passado, de financiar os investidores que quisessem assumir a VarigLog e a VEM. Antes do fim da reunião de sindicalistas com Fiocca, o presidente do BNDES, Guido Mantega, reafirmou que o banco não financiaria diretamente a Varig ¿ mesmo se não houvesse acordo entre os credores.

¿ Não podemos conceder crédito para a Varig. A empresa tem débitos fiscais, não tem certidão negativa de débito. Se eu fizer isso, vou responder a ações, inclusive com meus bens pessoais. Eu e toda a diretoria (do BNDES). Isso é uma exigência ¿ disse Mantega.

Ele ressaltou, ainda, que o BNDES se propôs a financiar o investidor e que aprovaria o empréstimo ¿a jato¿, assim que a operação fosse concretizada.

A Varig está em processo de recuperação judicial (que substituiu a concordata na nova lei de falências). O presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, disse na semana passada que numa segunda etapa a TAP deverá incorporar a Varig Log e a VEM de volta na Varig e investir mais US$500 milhões.

(*) Do Globo Online

www.oglobo.com.br/boaviagemonline