Título: `Ele cometeu um erro gravíssimo¿
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 08/11/2005, O Mundo, p. 27

BUENOS AIRES. Segundo o advogado constitucionalista Javier Valle Riestra, ex-premier do governo Fujimori, o ex-presidente do Peru cometeu um erro gravíssimo ao escolher o Chile como base de operações em sua estratégia para tentar reconquistar o poder perdido. Ele falou ao GLOBO de Lima, por telefone.

O Japão rechaçou o pedido de extradição de Fujimori. O senhor acredita que no caso do Chile o desfecho será outro?

JAVIER VALLE RIESTRA: O desfecho deste novo escândalo envolvendo Fujimori é imprevisível. Mas desta vez o cenário é muito mais adverso. Peru e Chile assinaram um tratado de extradição em 1932 . Além disso, Fujimori não tem a nacionalidade chilena (o ex-presidente peruano é cidadão japonês). Outro fator negativo é a imagem que Fujimori tem no Chile. A grande maioria dos chilenos condena personalidades como Fujimori, acusadas de delitos contra a Humanidade. Ele será comparado com Pinochet e repudiado.

O conflito territorial entre Chile e Peru também poderia complicar sua situação?

VALLE RIESTRA: Ele escolheu o pior momento para desembarcar em Santiago. Acho que cometeu um erro gravíssimo, comparado ao de Pinochet em 1998 (quando foi detido em Londres por ordem do juiz espanhol Baltasar Garzón).

Existem elementos suficientes para que a Justiça chilena autorize a extradição?

VALLE RIESTRA: Tudo vai depender da documentação que o Peru enviará aos juízes chilenos. No caso do Japão, a documentação era muito pobre. Vamos ver se neste caso as autoridades peruanas conseguem reunir as provas necessárias. Acredito que, tratando-se do Chile, as acusações de violação dos direitos humanos serão as que terão mais peso na hora da decisão. É necessário que seja provada sua culpa num delito cuja condenação seja superior a um ano para que a Justiça chilena possa autorizar a extradição.

O senhor foi funcionário de Fujimori...

VALLE RIESTRA: Sim, fiquei quatro semanas no governo. Em 1998, ele pediu-me que colaborasse, tentei realizar algumas reformas democráticas. Não foi possível e renunciei. (J.F.)