Título: INFLAÇÃO SURPREENDE E DOBRA
Autor: Cassia Almeida
Fonte: O Globo, 11/11/2005, Economia, p. 25

Taxa de 0,75% em outubro faz IPCA encostar na meta e corte de juros pode ser menor.

Ataxa de 0,75% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em outubro, mais que o dobro do 0,35% registrado no mês anterior, surpreendeu o mercado e analistas que acompanham a inflação. O índice, divulgado ontem pelo IBGE, era esperado entre 0,56% e 0,65%. Com isso, a taxa que serve de parâmetro para o sistema de metas de inflação do governo acumulou alta de 4,73% no ano e de 6,36% nos últimos 12 meses. Assim, dificilmente será possível acertar o centro da meta fixada, de 5,1%. As projeções estão entre 5,3% e 5,6% para 2005. Mas, como o sistema prevê que a inflação pode subir até 7%, o índice ficaria dentro do intervalo estabelecido.

A alta acima do esperado esfriou a expectativa do mercado de que o Banco Central (BC) pudesse dar mais rapidez ainda este ano à queda da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 19% ao ano. Uma parte dos analistas acreditava que, em dezembro, o corte poderia ser de 0,75 ponto percentual:

- Diante desse número de outubro, os cortes devem ficam em 0,5 ponto percentual em novembro, repetindo em dezembro. É um cenário nebuloso, já que a produção industrial teve uma queda forte (2% em setembro) e o dólar continua caindo. Dois indicadores que mostram que a política monetária está apertada. São sinais diferentes. Assim, a cautela é o melhor caminho - afirmou o economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles.

A diferença entre as projeções e a taxa anunciada ontem também é creditada ao fato de o IBGE não ter captado no IPCA-15 (uma espécie de prévia da taxa oficial) a alta dos ônibus urbanos em Salvador. Como a taxa foi de 0,56%, abaixo do esperado, os analistas revisaram para baixo as projeções para outubro:

- Deveríamos ter incluído dez dias de aumento de tarifas de ônibus em Salvador. Essa alta foi incluída no índice fechado - explicou Eulina Nunes dos Santos, gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

No mês passado, os transportes concentraram a maior parte dos aumentos. A variação do grupo atingiu 2,21%, respondendo por 65% da taxa total do IPCA. Puxando a alta, os combustíveis. A gasolina ficou 4,17% mais cara, enquanto o álcool subiu 10,48%.

- Mas tivemos reajustes também nas passagens aéreas, nos ônibus urbanos, nos carros usados. Isso fez subir mais ainda a taxa do grupo transportes - disse Eulina.

FGV e Fipe: índices têm recuo este mês

Outra pressão veio dos alimentos. Depois de quatro meses em queda, os preços voltaram a subir em outubro. A taxa foi de 0,27% e refletiu principalmente a alta das carnes. A carne bovina subiu 4,20%. Eulina atribuiu à entressafra da carne e à febre aftosa a alta do alimento. Muito maior que a registrada no mesmo mês do ano passado, de 1,01%.

- O anúncio da existência de focos de aftosa pode ter desorganizado o setor, que ficou alarmado. Temos que acompanhar os próximos meses, para ver se a alta persiste e se houve problemas na oferta da carne - disse a técnica.

Este mês, o índice deve ceder. O professor da PUC Luiz Roberto Cunha estima que a taxa fique menor que 0,5%. Segundo ele, não acertar o centro da meta não é preocupante:

- Ter uma inflação no ano de 5,5% é maravilhoso. O importante é observar a tendência de longo prazo, que é de queda.

Teles projeta um IPCA de 0,37% este mês. Para ele, outubro sofreu com os reajustes de preços administrados: combustíveis, passagem aérea, energia elétrica e ônibus urbanos. Essas altas fizeram subir os núcleos de inflação (medidas que retiram do IPCA as maiores variações). A média passou de 0,38% para 0,49%. O índice de difusão, que mede quantos itens ficaram mais caros, subiu de 51,4% para 59,2%.

Novembro também será pressionado pelos preços administrados. Já subiram a energia elétrica no Rio de Janeiro (12%) e em Fortaleza (8,5%). Além disso, os ônibus urbanos subiram 20% em Goiânia.

- Há ainda altas nas passagens aéreas, que já fizeram a inflação subir em outubro - disse Eulina.

Outros dois índices já mostram a inflação em queda em novembro. O IGP-M, da Fundação Getulio Vargas, variou 0,16% entre 21 e 30 de outubro, contra 0,25% na mesma prévia do mês anterior. Passada a maior parte do efeito do reajuste da gasolina, os combustíveis foram os principais responsáveis pela perda de fôlego da inflação. O Índice de Preços por Atacado (IPA) ficou em 0,13%, contra 0,25% no mês anterior. Enquanto isso, os preços ao consumidor variaram 0,22%.

Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que acompanha a inflação em São Paulo, registrou na primeira quadrissemana de novembro taxa de 0,59%, abaixo da apuração anterior, de 0,63%.

COLABOROU Carlos Vasconcellos