Título: Renan cobra ida imediata de ministro ao Congresso para explicar denúncias
Autor: Lydia Medeiros/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 11/11/2005, O País, p. 4

Senadores petistas reconhecem que Palocci está cada vez mais fragilizado

BRASÍLIA. No Congresso, a situação complicada do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ficou evidente logo de manhã quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou seu comparecimento imediato à Casa para esclarecer seu suposto envolvimento em denúncias de caixa dois em campanhas eleitorais. Renan chegou a sugerir que a audiência na Comissão de Assuntos Econômicos, marcada para 22 de novembro, seja realizada no plenário para que o ministro possa não apenas falar da economia mas também responder à CPI dos Bingos.

- O ministro Palocci tem que vir o mais rapidamente possível. Não pode haver dúvida sobre o ministro da Fazenda. Ele precisa esclarecer os fatos e deve falar onde quiser, numa CPI, numa comissão ou no plenário - disse Renan, que na noite anterior havia se queixado de Palocci com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, por causa da retenção de receitas do Fundo de Participação dos Estados de Alagoas.

A ida de Palocci ao Senado é considerada inevitável por representantes de todos os partidos. O senador José Jorge (PFL-PE), no entanto, prefere que Palocci preste dois depoimentos, um sobre a economia do país na Comissão de Assuntos Econômicos, e outro para as três CPIs (Bingos, Correios e Mensalão) para esclarecer sobre financiamento eleitoral em Ribeirão Preto, suposta doação financeira de Cuba para a campanha nacional do PT e os casos Visanet e IRB.

Petistas saem em defesa

O senador petista Tião Viana (AC) reconheceu que a situação de Palocci está piorando em decorrência do descontentamento de parte do PMDB com parcela do governo. Viana defendeu um único depoimento de Palocci sobre todos os assuntos.

- A oposição quer que ele fale na comissão de economia para fazê-lo sangrar e deixá-lo anêmico, para depois ser submetido a uma CPI para o abate final - protestou Tião Viana.

O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), também saiu em defesa de Palocci, afirmando que ele tinha interesse em falar ao Senado:

- Ele será transparente e terá espírito público.

Mercadante tentou amenizar o conflito entre Palocci e Dilma lembrando que em todos os últimos governos houve conflito entre visões monetaristas e desenvolvimentistas.

Já o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), fez duros ataques a Dilma e ao presidente Lula. Sua avaliação é de que as divergências internas levarão a uma situação insustentável. Ele acredita que a atitude de Dilma, que acontece no momento de maior vulnerabilidade de Palocci, pode arruinar o conceito do país junto a investidores. O tucano tomou café da manhã ontem com executivos do banco Credit Suisse que, segundo ele, queriam entender quem no governo vai arbitrar essa crise.

- Quero crer que hão há perigo de ser em favor de Dilma. O que ela propõe é uma gastança eleitoreira. Se Palocci sai, é Lula que cai, não se sustenta.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que a oposição tem interesse em administrar a crise que envolve o ministro, porque está convencida de que a economia começa a ser afetada. O senador citou como exemplo a perspectiva de queda do PIB e o crescimento estimado em 3% para 2005.

- A única coisa que lembra levemente um governo é o ministro Palocci. Sem ele, não existe - disse Tasso.

Em busca de apoio no PMDB

Dilma mostra interesse em resolver liberação de emendas

BRASÍLIA. No momento em que decide confrontar o ministro Antonio Palocci, o mais importante integrante do primeiro escalão do presidente Lula, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, trata também de buscar apoio no Congresso. Num jantar anteontem na casa do líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), a ministra que tem fama de durona esbanjou simpatia e mostrou empenho para resolver as eternas queixas dos parlamentares aliados, justamente a liberação de emendas do Orçamento, ou seja, mais gastos, um dos motivos de suas desavenças com a equipe econômica.

Por cerca de duas horas, Dilma ouviu os pedidos da bancada do PMDB na presença das senadoras do PT Ana Júlia Carepa (PA) e Ideli Salvatti (SC). Ganhou de presente uma echarpe de renda branca, dois livros de poesia e um disco, de autoria de Suassuna. Teve um outro mimo: dieta especial, de peixe, legumes e arroz integral. Mas na hora da sobremesa, a parcimônia ficou para trás e Dilma comeu o doce de jaca e o sorvete de tapioca. O jantar contou com a presença de mais de dezena de senadores, inclusive José Sarney, que raramente participa desses encontros.

Apesar da afabilidade, a ministra quis mostrar que estava numa reunião de trabalho: levou uma assessora que tomava notas das reclamações. Um das frases que a ministra mais repetiu foi: "Anota isso. É importante". O senador Alberto Silva (PI), que completava 87 anos, poupou trabalho. Levou uma lista de reivindicações por escrito e pediu:

- Não esqueça, ministra.

A todos, Dilma prometeu encaminhar os problemas. Teve o cuidado, no entanto, de não exibir excesso de força, no estilo que consagrou o antecessor José Dirceu. Preferiu dizer que falaria com o ministro Jaques Wagner, coordenador político, ou com o próprio presidente Lula.

- Em termos de simpatia, dá de 10 a zero no antecessor. Em termos de relacionamento, o outro estava na estratosfera e ela tem os pés no chão - disse Suassuna ontem, selando uma nova aliança.

Diante das críticas dos senadores à política econômica, especialmente aos altos superávits obtidos às custas de cortes em investimentos - que ela já atacara - Dilma optou pelo silêncio. Pelo menos em relação a Palocci.

O anfitrião Suassuna foi explícito ao cobrar por recursos federais. Afirmou que a pressão de prefeitos é alta e que o clima é desgastante.

- São coisas pequenas, mas irritam, porque vivemos sob pressão - disse o líder.

Dilma defendeu o empenho (promessa de gasto) de emendas e disse estar preocupada com a execução do Orçamento. Mas foi lacônica em relação a Palocci:

- As equipes econômicas são difíceis mesmo - ponderou.

Para mostrar que quer ver o governo investindo, a ministra listou obras prioritárias, como a transposição do Rio São Francisco e as ferrovias Norte-Sul e Transnordestina, além da duplicação de trechos da BR-101. E não se furtou a reclamar da intervenção do Ibama e do Ministério Público, em ações que têm atrasado essas e outras obras, como hidrelétricas.

- Não posso aceitar que país fique paralisado - disse aos senadores. (Lydia Medeiros)

"A oposição quer que ele fale para fazê-lo sangrar e deixá-lo anêmico, para depois ser submetido a uma CPI para o abate final"

TIÃO VIANA , Senador (PT-AC)

"A única coisa que lembra levemente um governo é o ministro Palocci. Sem ele, não existe"

TASSO JEREISSATI , Senador (PSDB-CE)

Legenda da foto: RENAN: "Não pode haver dúvida sobre o ministro da Fazenda. Ele precisa esclarecer os fatos e deve falar"