Título: GOVERNO TENTA IMPEDIR PRORROGAÇÃO DA CPI DOS CORREIOS
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 11/11/2005, O País, p. 10

Requerimento para aumentar o prazo dos trabalhos foi lido, mas Planalto ainda trabalha para retirar assinaturas

BRASÍLIA. Dois dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar na TV que quer investigar tudo, o governo entrou em campo ontem para retirar assinaturas do requerimento que prorroga por 120 dias os trabalhos da CPI dos Correios, apresentado pela oposição. O trabalho de tentar retirar mais de 60 assinaturas foi comandado pelo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e apoiado por todos os líderes da base aliada. Desde anteontem, quando viram que o requerimento estava assinado por mais de 220 deputados, os governistas buscaram convencer os aliados de que era preciso evitar um palanque eleitoral para a oposição.

O requerimento foi lido de manhã pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em sessão do Congresso. No momento da leitura havia 217 assinaturas de deputados e 32 de senadores. Ontem às 21h, o requerimento ainda tinha as 217 assinaturas de deputados, o que significa que o governo tinha que retirar até a meia-noite 47 nomes. Os líderes aliados acreditavam ser possível retirar 51 assinaturas de deputados.

Se os trabalhos não forem interrompidos no recesso, a CPI estenderá sua investigação até abril. Se houver recesso entre dezembro e janeiro, as investigações poderão avançar até junho de 2006 - praticamente dentro do período de campanha eleitoral. Chinaglia pediu ajuda a todos os líderes, especialmente de PMDB, PP, PL e PTB. Houve reuniões durante o dia, com líderes argumentando que não se tratava de manobra contra a prorrogação, mas contra os 120 dias propostos pela oposição. Os governistas têm uma proposta alternativa.

- Vamos prorrogar por 20, 30 dias e não por 4 meses. Temos mais um mês e meio pela frente. O correto é sentar na primeira semana de dezembro (quando vence o prazo de funcionamento) e ver, com a CPI, qual a necessidade - argumentou o líder do PMDB, Wilson Santiago (PB), que esperava tirar 20 das 32 assinaturas de peemedebistas no requerimento.

No PP, o trabalho de convencimento dos parlamentares também estava adiantado. Das 19 assinaturas, o líder Mário Negromonte (BA) tinha conseguido promessa de retirada de 13. O argumento usado é de que a prorrogação tem por objetivo transformar a CPI num palanque eleitoral.

No PTB, o líder José Múcio Monteiro (PE) tinha convencido, até o meio da tarde de ontem, seis dos 11 petebistas a retiraram seus nomes.

- Não somos contra a prorrogação, mas até abril é palanque eleitoral! Tudo aqui virou crime, até mesmo práticas regimentais (como a retirada de assinaturas), que é do jogo político - protestou o líder do PTB.

- Defendo a prorrogação pelo menos até fevereiro, mas vou retirar porque pedido de líder é uma ordem - justificou Nelson Marquezelli (PTB-SP).

A oposição criticou a ação do governo.

- É uma contradição: o Lula vai um dia na TV e reafirma que o governo quer que as CPIs investiguem tudo e no dia seguinte coloca sua base em campo para retirar as assinaturas. É uma demonstração clara de que o presidente não quer investigação nenhuma - disse o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

O petista Gilmar Machado (MG) fez uma questão de ordem para anular a prorrogação, mas Renan rejeitou-a. Diante das acusações de Aleluia de que Lula agia para evitar a prorrogação da CPI, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP) reagiu:

- A intenção da prorrogação não é séria.

Legenda da foto: RENAN CALHEIROS: o presidente do Senado leu ontem de manhã o requerimento de prorrogação da CPI