Título: CPI desmonta versão de empréstimos do PT
Autor: Adriana Vasconcelos/Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 11/11/2005, O País, p. 12

Relatório pede indiciamento de Delúbio e Valério por falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e improbidade

BRASÍLIA. O segundo relatório da CPI dos Correios foi apresentado ontem pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), mas um pedido de vista de parlamentares governistas adiou sua votação. Ao detalhar a movimentação financeira das empresas do empresário Marcos Valério de Souza, Fruet desmontou a versão dos empréstimos bancários apresentada por ele e pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares para justificar os repasses de recursos ao PT e a seus aliados. O texto recomenda o indiciamento de ambos pelos crimes de falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa, cujas penas variam de quatro a seis anos de prisão, além do pagamento de multas.

Petistas protestaram ao perceberem a ausência de qualquer menção ao empréstimo que a SMP&B teria feito em 1998 para financiar a campanha do então candidato do PSDB ao governo de Minas Eduardo Azeredo.

- É estranho que o detalhamento das contas de Valério só tenha sido feito a partir de 2003 - disse Maurício Rands (PT-PE), que pediu vista.

Petistas querem que relator mude o texto

O vice-presidente da CPI, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), aceitou o pedido e concedeu prazo de cinco dias úteis, o que levaria a votação do relatório de Fruet para a próxima sexta-feira. Por ser um dia de quórum baixo no Congresso, o relatório só deverá ser votado na semana seguinte. Os petistas esperam que o subrelator acrescente ao texto o caso de Azeredo em 1998.

Com 52 páginas, o texto foi referendado pelo relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que disse estar convencido de que nunca houve empréstimo de Valério para o PT:

- Temos pelo menos dez argumentos que derrubam a tese.

O primeiro deles seria de a ausência de contrato entre as empresas de Valério e o PT. Não há registro de pagamento de juros, encargos ou amortizações. Um empréstimo do Banco Rural à SMP&B, de R$19 milhões, foi prorrogado seis vezes e outro ao PT, no valor de R$3 milhões, dez vezes. O relatório atesta que foi constituída uma estrutura para desviar recursos de órgãos federais, fazer financiamento partidário escuso e traficar influência.

O relatório foi revisto e amenizado antes de sua leitura. O nome do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi retirado da lista de indiciados. Ele é apontado como responsável pela liberação dos R$10 milhões do BB, pagos por intermédio da Visanet, à DNA Propaganda. O dinheiro, segundo Valério, foi repassado a pessoas indicadas por Delúbio, entre elas Pizzolato.

Um grupo queria que Pizzolato fosse incluído no relatório parcial sobre contratos, feito pelo subrelator José Eduardo Cardozo (PT-SP). Há no comando da CPI a preocupação de que um relatório muito ruim para o governo neste momento inviabilize os trabalhos da CPI.

Operação no BB rendeu a Valério R$3,481 milhões

Dinheiro recebido da Visanet foi aplicado em fundo do banco

BRASÍLIA. A CPI dos Correios descobriu que o empresário Marcos Valério de Souza lucrou R$3,481 milhões investindo o dinheiro que recebeu adiantado da Visanet, da qual o Banco do Brasil é sócio, entre agosto de 2003 e novembro de 2004. Segundo a CPI, o dinheiro - mais de R$50 milhões - estava aplicado em um fundo de investimento do próprio Banco da Brasil. O relator adjunto da comissão, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), afirmou que o relatório final da comissão pode propor ação de ressarcimento destes recursos, recebidos indevidamente pela DNA Propaganda.

A comissão aprovou 17 requerimentos. E vai convocar os responsáveis por cinco agências de publicidade que prestariam serviços ao governo federal: Giovanni-FCB S/A, LoweLtda, Ogilvy Brasil Comunicação Ltda, Giacometti & Associados Comunicação Ltda e D+ Brasil Comunicação Total Ltda.