Título: MAIS UM CASO DE FEBRE MACULOSA PERTO DO RIO
Autor: Célia Costa/Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 11/11/2005, Rio, p. 17

Doença é confirmada em Juiz de Fora. Menino infectado em Petrópolis mora às margens de rio com capivaras

Mais um caso de febre maculosa nas proximidades do Rio. Um menino de 10 anos está internado há seis dias no Hospital Doutor João Penido, em Juiz de Fora, cidade mineira que fica a 184km da capital fluminense. O caso foi confirmado através de exames feitos em Belo Horizonte. Em Caxias, a Vigilância Epidemiológica está investigando um caso suspeito. Um catador de lixo, de 22 anos, que mora no bairro Parque das Missões, está internado no hospital da cidade com sintomas da doença. Amostras de sangue do paciente já foram enviadas para a Fiocruz.

Aos médicos, o homem relatou que permaneceu do dia 2 até segunda-feira em Barra do Piraí, trabalhando na capina de um terreno no bairro Ponte Vermelha, perto da estação de trem, com mais cinco pessoas. O grupo foi picado por carrapatos.

Em Petrópolis, a mãe do menino de 8 anos, morador do bairro Retiro, internado no Hospital Alcides Carneiro com febre maculosa, revelou que o filho pode ter sido picado por carrapatos provenientes de capivaras que costumam ficar às margens do Rio Piabanha. Ela, que não quer ter seu nome divulgado, disse que o menino mora com a avó numa rua às margens do rio. À noite as capivaras sobem para a rua em busca de alimento e por isso podem ter passado os carrapatos para os cavalos que andam soltos no local.

Segundo a mãe, o menino já tinha sido picado por carrapato outras vezes, sem ficar doente. Ela contou que a criança estava brincando com amigos às margens do Rio Piabanha, na Estrada da Cachoeirinha, na véspera do feriado de Finados, quando voltou para casa com um carrapato na orelha. Ela disse que retirou o carrapato, mas, nos dois dias seguintes, o menino apresentou uma febre baixa. Depois ele melhorou e só teve febre de novo na última semana, quando já quase não conseguia andar.

- Como ele tem amidalite, pensei que se tratava apenas de uma gripe, porque ele sempre tem febre. Mas, como a febre voltou, e ouvi sobre o carrapato, resolvi procurar o médico - disse ela.

Superpopulação de capivaras cria polêmica em SP

Especialistas defendem extermínio, o que Ibama rejeita

Assim como no caso de Petrópolis, outros de febre maculosa apontam capivaras como hospedeiras do carrapato infectado. Em São Paulo, alguns especialistas passaram a defender o extermínio de capivaras devido à sua superpopulação em áreas urbanas. Anteontem o professor Wilson Matos, do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), afirmou que, em casos onde haja o desequílibro da população de capivaras, medidas drásticas precisam ser adotadas.

O Ibama admite a superpopulação do animal, mas só vai considerar possibilidade de extermínio dos animais se ficar comprovada a existência de uma epidemia de febre maculosa - e que a capivara é responsável por ela. Matar capivara, animal silvestre, é crime ambiental.

No domingo passado, uma menina de 12 anos morreu na capital paulista com suspeita de febre maculosa e na terça-feira a mãe também foi internada com os sintomas da doença. Em outras cidades, há centenas de casos suspeitos, principalmente em Piracicaba. Cinco pessoas morreram.

Em Petrópolis, o caso de febre maculosa do menino de 8 anos está assustando moradores da Estrada da Cachoeirinha, no bairro Retiro. Acostumado a andar na rua às margens do rio Piabanha, o biscateiro Luiz Carlos da Silva, confirmou a incidência de capivaras no local.

- Agora fiquei com medo. Mas as crianças não têm noção e continuam brincando no rio.

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Legenda da foto: O RIO PIABANHA nas proximidades da casa do menino que adoeceu