Título: PT não dá trégua a Palocci
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 12/11/2005, O País, p. 3

Presidente do partido alimenta crise criticando política de superávit comandada pelo ministro

Não bastasse a crise envolvendo os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) por causa das críticas da ministra à política econômica conduzida por ele, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, chamou ontem de inadequado fazer um superávit primário acima do previsto - a meta anual de 4,25% já alcançou 6,1%. Berzoini tomou partido de Dilma, apesar de afirmar que não estava defendendo nem um nem outro:

- A proposta de ajuste fiscal maior do que aquela que é praticada é inadequada para o nível de execução orçamentária que nós criamos, em termos de política social. Isso não significa que o presidente do PT é aliado de Dilma e não de Palocci e Paulo Bernardo (o ministro do Planejamento) - disse.

O presidente do PT foi além: afirmou que não há viabilidade política para se levar adiante a proposta de manter o aumento do superávit primário acima da meta de 4,25% do PIB, lembrando que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já dissera que sua opinião é pelo percentual previsto no Orçamento.

- Não há a menor viabilidade política para que saia como proposta de governo e nenhuma viabilidade de aprovação no Congresso. Pelo contrário, o que se reclama no Congresso é que haja execução orçamentária mais linear ao longo do ano - disse Berzoini em entrevista na sede do PT.

Ministro enfrenta momento ruim

As diferenças entre Palocci - o comandante do arrocho orçamentário - e Dilma - que defende a redução da meta de superávit e da taxa de juros - já estavam evidentes, mas agravaram a crise política quando, no momento em que o ministro da Fazenda está fragilizado por denúncias de caixa dois envolvendo ex-assessores, ela atacou publicamente proposta da área econômica. Em entrevista ao "Estado de S.Paulo", Dilma chamou de rudimentar a proposta de ajuste fiscal de longo prazo apresentada por Palocci e Paulo Bernardo. O presidente Lula chamou os dois e mandou "baixarem a bola", acabando com as divergências públicas.

Já o presidente do PT disse que considera saudável esse debate no governo, pois o partido também acha exagerado o superávit primário que inibe investimentos sociais. Berzoini fez, porém, elogios à condução da política econômica.

- O partido tem avaliação positiva sobre a política econômica, mas com a percepção de que é possível acelerar a execução orçamentária praticando o que está no Orçamento da União, de 4,25%, que é também a opinião do presidente Lula - disse Berzoini.

Ele afirmou que o partido já pediu diversas vezes uma "aceleração na execução orçamentária" e disse que o superávit fiscal de 4,25% é suficiente para melhorar a relação da dívida pública sobre o PIB.

- Não há necessidade de ampliarmos o ajuste fiscal. Pelo contrário, estamos em um cenário macroeconômico que permite a redução da taxa de juros e maior execução orçamentária, mantendo a responsabilidade fiscal. O que se reclama no Congresso é que haja uma execução orçamentária mais linear - disse Berzoini.

Depois de atacar parte da política econômica, o presidente do PT defendeu o governo Lula dizendo que ele não teve participação no movimento de parlamentares para a retirada de assinaturas no pedido de prorrogação da CPI dos Correios.

- Foi a base que se mobilizou nesse sentido - afirmou.

O aumento na liberação de emendas parlamentares, que coincidiu com a mobilização contra a CPI, para Berzoini obedece a uma normalidade:

- Há semanas existe uma movimentação de liberação de verbas porque é fim de ano. E isso é normal. Fim de ano também é um período de maior movimentação de parlamentares para liberar suas emendas e não houve liberação discrepante.

Na avaliação do presidente do PT, a prorrogação da CPI dos Correios não foi uma derrota do governo, mas uma manobra da oposição com fins eleitorais.

- É uma manobra da oposição que quer usar as CPIs como palco de disputa eleitoral - acusou.

Berzoini disse que, além de pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o reexame das contas de campanha do PSDB, o PT tende a fazer o mesmo pedido para as contas do PFL.

- O PSDB representou contra nós e nós contra eles. Queremos que o TSE dê tratamento isonômico a essa matéria e a regra deve valer para todos. Tendemos a apresentar representação contra o PFL também.

'Na política tem isso de intrigas'

Lula passou o dia ontem monitorando a crise e a operação em torno da CPI

BRASÍLIA. Depois de exigir o fim da guerra entre Antonio Palocci e Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou o dia ontem, e também parte da noite de anteontem, monitorando a crise. Lula permaneceu no Planalto até as 23h40m de anteontem avaliando a situação de Palocci e acompanhando a operação para evitar a prorrogação da CPI dos Correios. Com a vitória da oposição, a reação foi de surpresa e preocupação. Mas a avaliação, antes da entrevista do presidente do PT, Ricardo Berzoini, era de que o governo conseguira aplacar os estragos das críticas de Dilma. Mas permanecia a preocupação com a fragilidade política de Palocci. À tarde, Lula se reuniu com o ministro e reafirmou que não há hipótese de deixar a Fazenda. Reuniu-se também com o líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra (MS), e o vice-líder Romero Jucá (PMDB-RR). Quando Jucá lhe garantiu que Dilma não criticara Palocci no jantar com o PMDB, Lula comentou:

- Na política, tem isso de intrigas. Temos que conviver com isso.

Legenda da foto: DILMA, BERZOINI E PALOCCI: A briga entre os ministros esquentou com as declarações do presidente do PT contrárias às propostas da equipe econômica