Título: AMIGOS DA 'REPÚBLICA DE RIBEIRÃO PRETO'
Autor: Cristiane Jungblut/Martha Beck
Fonte: O Globo, 12/11/2005, O País, p. 4

Ex-assessores de Palocci acompanharam ministro desde sua gestão na prefeitura

RIBEIRÃO PRETO. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, levou para o governo federal parentes e ex-assessores da época em que ele foi prefeito de Ribeirão Preto (de 1993 a 1996 e de 2000 a 2002). O grupo já é chamado por parlamentares da oposição de a "República de Ribeirão Preto". A maioria chegou pobre à cidade quando Palocci foi eleito pela primeira vez, como o advogado Rogério Buratti, que tinha um Fusca 67 e hoje é dono de empresas de ônibus e de uma malharia.

Coordenador da campanha de Palocci em 1992, Buratti participou dos primeiros dois anos da primeira administração do ex-ministro. Era secretário de governo. Credita-se a ele a indicação de Ralf Barquete para a Secretaria da Fazenda na segunda gestão de Palocci. Preso recentemente por envolvimento com a máfia que fraudava licitações na Prefeitura de Ribeirão, Buratti disse aos promotores que Palocci ganhava mesada de R$50 mil da empreiteira Leão & Leão em propinas para facilitar os negócios da empresa e que o dinhiero era repassado por Ralf Barquete para o caixa dois do PT. Na CPI dos Bingos, disse que Palocci sabia de supostas doações de empresas de jogo à campanha de Lula em 2002.

Barquete, morto no ano passado de câncer, foi secretário da Fazenda de Ribeirão Preto e atuou, em Brasília, como assessor da presidência da Caixa Econômica Federal. Seu nome foi citado por Vladimir Poleto, o economista que ficou conhecido após as revelações feitas pela "Veja" de que o PT recebeu de US$1,4 milhão a US$3 milhões de Cuba. Segundo Poleto, Barquete ajudou a transportar do aeroporto de Viracopos, em Campinas, três caixas de bebida recheadas com os dólares de Cuba para a campanha de Lula em 2002. Poleto trabalhou com Palocci na segunda gestão na prefeitura. Estava em seu nome a casa alugada pelos integrantes da "República de Ribeirão" em Brasília, cujos aluguéis adiantados, por seis meses, foram pagos por ele, no valor de R$60 mil, em dinheiro vivo, dentro de pacotes. Nessa casa, os integrantes da "República de Ribeirão" faziam churrascos e jogavam tênis.

O empresário Roberto Carlos Kurzweil é o homem que alugou dois Omega pretos entre agosto e setembro de 2002, na campanha de Lula. Kurzweil também disse que o motorista Éder Macedo prestou serviços ao partido durante a campanha de 2002. Um Omega preto da Locablin, dirigido por Macedo, teria sido usado para transportar os dólares. Kurzweil é dono da REK Construtora, empresa que integra o Consórcio Ambient, beneficiário de um contrato para exploração dos serviços de tratamento de esgoto em Ribeirão Preto, firmado na primeira gestão de Antonio Palocci, por 20 anos.

Roberto Colnagh, empresário de Penápolis, no interior de São Paulo, é o dono do Sêneca que teria sido usado para levar o dinheiro. É dele também o jatinho Citation usado por Palocci quando era prefeito de Ribeirão Preto.

Outro a depor na CPI dos Bingos foi Juscelino Dourado, ex- chefe de gabinete do ministro que deixou o cargo depois de ser convocado pela comissão. Ele recebeu Buratti várias vezes no Ministério da Fazenda, e os dois se falavam com freqüência pelo telefone. Dourado alega que eles conversavam sobre assuntos privados.

Ademirson Ariovaldo da Silva hoje atua como assessor especial do ministro da Fazenda. Ninguém fala com Palocci sem passar por Ademirson, que atende à maioria das ligações do ministro, inclusive no celular. Há várias chamadas telefônicas entre Ademirson, Poleto e Buratti.

Há outros velhos conhecidos de Palocci hoje em cargos importantes. Donizeti de Carvalho Rosa, vereador por três mandatos em Ribeirão Preto, foi superintendente do Daerp (Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto), superintendente da Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto) e secretário de governo de Ribeirão Preto. Rosa deixou o governo no último ano do então prefeito Gilberto Maggioni, sucessor de Palocci, para voltar à Câmara Municipal. Atualmente, é diretor-superintendente do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), por indicação de Palocci. Wagner Quirici é outro que está em Brasília num cargo no Serpo (diretor-presidente), pelas ligações com a "República de Ribeirão". Na gestão de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, ele atuou na Ceterp.

Legenda da foto: OS AMIGOS da República de Ribeirão Preto: no sentido horário, Rogério Buratti; Ademar Palocci ; Juscelino Dourado e Vladimir Poleto.