Título: Palocci viaja para 'reavaliar a vida' e refletir se deixa cargo logo ou espera
Autor: Cristiane Jungblut/Martha Beck
Fonte: O Globo, 12/11/2005, O País, p. 4

Em conversa com Lula, ministro não escondeu irritação com críticas e denúncias

BRASÍLIA. Sob bombardeio intenso no governo, no PT e na oposição, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, decidiu sair de cena por uns dias. Ele se reuniu ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por volta das 15h, para comunicar que tirará uma folga de quatro dias, emendando o feriado de terça-feira. Durante esse período, o ministro vai "reavaliar a vida", segundo disse a auxiliares, e refletir se deve deixar o governo agora ou esperar mais um pouco. No encontro, Palocci não escondeu que estava muito cansado e irritado com o tiroteio dos últimos dias e que precisa de um descanso.

Lula conversou sozinho com Palocci. No Planalto, ainda há preocupação com a fragilidade política do ministro por causa das denúncias envolvendo ex-assessores. Apesar de saber que será um tiroteio, o governo aposta que Palocci conseguirá mudar a situação ao participar de depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos, no Senado, dia 22.

O afastamento de quatro dias também servirá para Palocci se preparar para o depoimento. O próprio ministro costurou sua ida à comissão, telefonando para oposicionistas, como o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (PFL-RN). Anteontem, ele reafirmou ao senador Ney Suassuna (PMDB-PB) que quer ir à comissão para falar dos êxitos da economia.

Ministro terá agora agenda mais técnica

O ministro deve entrar agora numa fase mais discreta. Segundo interlocutores, na volta ao trabalho ele manterá agenda mais técnicas e em Brasília, longe dos holofotes. Quer manter esse comportamento pelo menos até o dia 22, quando está prevista sua ida ao Senado.

Ontem, Palocci participou da reunião do Conselho de Administração da Petrobras no Ministério de Minas e Energia. A chefe da Casa Civil, que também é presidente do conselho, participou do encontro. Segundo técnicos do governo, o clima entre os dois foi de tranqüilidade, mas Palocci passou boa parte da reunião ao telefone.

Os encontros do conselho costumam ser realizados no Rio, mas diante da preocupação de Dilma e do próprio Palocci com a crise política, a reunião foi transferida para Brasília. Os dois queriam acompanhar de perto, por exemplo, a decisão do Congresso em relação à prorrogação da CPI dos Correios.

Elogios a Palocci, ontem, partiram de fora do governo. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, aproveitou um evento público para defender o ministro. Ele disse que, apesar de o Brasil ter hoje juros muito elevados e uma alta carga tributária, a gestão de Palocci é "serena e competente".

Empresários temem mudança na economia

Monteiro também afirmou que o ministro estabeleceu fundamentos sólidos para a economia e, por isso, tem a confiança da comunidade empresarial. As declarações do presidente da CNI refletem a preocupação dos empresários com uma eventual mudança no comando da equipe econômica, que começou a ser cogitada depois do embate com a ministra Dilma Rousseff.

- As críticas ao ministro trazem uma situação de desconforto para aqueles que, como o setor privado, defendem a gestão de Palocci - disse Monteiro ao participar da divulgação de um estudo do Fórum Nacional da Indústria da CNI, na presença de cerca de 200 empresários na sede da Federação da Indústria do Estado do Rio Grande do Sul.