Título: 'TEM GENTE QUE TEM DIFICULTADO A INVESTIGAÇÃO'
Autor: Maria Lima/Lydia Medeiros/Cristiane Jungblut/Isabe
Fonte: O Globo, 12/11/2005, O País, p. 8

Serraglio diz que seria necessário mais um ano para apurar denúncias sobre fundos e o IRB

BRASÍLIA. O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), defendeu ontem a prorrogação do prazo para investigações que, segundo ele, é necessária diante do volume de dados na comissão que ainda precisam ser apurados. Ele afirmou que a CPI ampliou o foco da apuração e calculou que, só para tratar das denúncias que envolvem os fundos de pensão, seria preciso mais um ano.

- É um azar nosso que a CPI funcione em véspera de ano eleitoral - lamentou Serraglio. - Mas as investigações sobre os fundos e o Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB) não têm como acabar em dezembro.

PF estaria dificultando acesso a documentos

A CPI deveria encerrar seus trabalhos em 11 de dezembro, mas o prazo para a conclusão dos trabalhos foi prorrogado por 120 dias. Serraglio se queixou da falta de colaboração de algumas instituições nas investigações, sem citá-las, e reclamou da iniciativa de muitos depoentes que recorreram a hábeas-corpus para depor.

- O presidente Lula pode ter a intenção de que tudo seja investigado. Mas tem gente dentro das instituições que tem dificultado as investigações.

Além de hábeas-corpus e liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), integrantes da CPI reclamam que setores da Polícia Federal têm dificultado o acesso dos parlamentares a informações já disponíveis no inquérito do mensalão.

Segundo Serraglio, o relatório final certamente incluirá as relações entre o PSDB e o empresário Marcos Valério, que ficaram fora do relatório preliminar do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Os governistas da CPI pediram vista, na quinta-feira, ao texto de Fruet e decidiram preparar um voto em separado para incluir o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, também envolvido com o valerioduto. O prazo de vistas termina sexta-feira e só na semana seguinte o relatório parcial será votado.

- Fatos não se escondem. A visão do PT é de vigilância política. A nossa, é de investigação - afirmou Serraglio.

Maior parte dos papéis dos fundos ainda está sob análise

O relator afirmou que preferiu ficar isento na guerra pela retirada de assinaturas do requerimento que prorrogou a CPI dos Correios, porque o plenário da comissão ficou dividido.

A sub-relatoria que apura irregularidades na gestão dos fundos de pensão estatais está trabalhando há menos de um mês. Ainda não foram ouvidos os dirigentes dos 13 fundos que estão na CPI. A ampliação da quebra de sigilo dos fundos foi aprovada há duas semanas e os papéis ainda estão em análise. A CPI contratou três empresas de auditoria privadas para ajudar a analisar o enorme volume de papéis. A empresa Ernst & Young fará auditoria nos documentos sigilosos relacionados aos fundos de pensão. A Villas Rodil e a Moore Stephens vão analisar a movimentação financeira nas 75 contas bancárias de 18 empresas de Valério.

Legenda da foto: SERRAGLIO: "O PRESIDENTE pode ter a intenção que tudo seja investigado, mas tem gente dificultando"