Título: Governo perde batalha e CPI vai até abril
Autor: Maria Lima/Lydia Medeiros/Cristiane Jungblut/Isabe
Fonte: O Globo, 12/11/2005, O País, p. 8

Oposição vence por um voto com descuido de Dornelles, cuja assinatura contra prorrogação não conferiu com registros da Câmara

BRASÍLIA. O governo dormiu com um gosto de vitória e acordou ontem com uma derrota amarga e um enorme desgaste, ao fim da guerra travada com a oposição para derrubar a proposta de prorrogação das investigações na CPI dos Correios por mais 120 dias. A oposição venceu e a CPI teve seus trabalhos prorrogados até 11 abril do ano que vem.

Com a promessa de liberação de emendas parlamentares, no fim da noite de quinta-feira o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), despejou na Mesa do Congresso 66 pedidos de retirada de assinaturas de deputados que apoiaram inicialmente a prorrogação da CPI. O prazo para a oposição protocolar o requerimento com o número de assinaturas necessárias para prorrogar a CPI terminava à meia-noite.

No último minuto de quinta-feira, às 23h59m, a oposição protocolou outras 20 assinaturas de apoio. Por apenas um nome a mais, o placar à meia-noite dava a vitória ao governo: caiu de 214 para 170 o número de assinaturas de deputados favoráveis à prorrogação. Eram necessárias as assinaturas de 171 deputados e de 35 senadores. Algumas horas depois, porém, após a conferência das assinaturas, descobriu-se que no requerimento de retirada apresentado pelos governistas a assinatura de Francisco Dornelles (PP-RJ) não conferia. O placar então se inverteu e a oposição virou o jogo.

Nove membros do Conselho de Ética contra a prorrogação

Dos 66 parlamentares da base que retiraram o apoio ao requerimento da oposição, nove são do Conselho de Ética, entre eles o presidente Ricardo Izar (PTB-SP) e o relator do processo de José Dirceu (PT-SP), deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Ontem Delgado tentou anular o requerimento, alegando que ele só deveria ter sido entregue à Mesa se fosse firmado o compromisso do governo de adiamento da CPI por mais 30 dias, até janeiro. Mas não adiantou. Seu nome foi incluído na lista dos que retiraram o apoio.

Se os parlamentares trabalharem durante o recesso, a comissão será encerrada em abril do ano que vem. Caso haja interrupção, os trabalhos da CPI continuarão até junho de 2006.

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), comemorou a vitória e condenou a estratégia do governo. Segundo ele, essa atitude mostra que a entrevista do presidente Lula ao programa "Roda Viva", quando disse que defendia as investigações, foi uma farsa.

- Queda e coice. Além de se expor trabalhando pela retirada de assinaturas, tornando claro que a entrevista foi uma farsa, vão ter de se submeter às conseqüências da derrota.

A liderança do PSDB no Senado divulgou nota com críticas e chamou de inescrupulosa a ação do governo. Segundo o líder, senador Arthur Virgílio (AM), ao pedir a retirada de assinaturas com promessas de verbas o governo mostrou a diferença entre o discurso e a prática, uma vez que o presidente, na TV, disse que não criaria obstáculos às investigações.

Chinaglia tentou correr atrás do prejuízo, sem sucesso. Reuniu-se primeiro com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e depois, por mais de uma hora, com o secretário-geral da Casa, Mozart Viana.

A expectativa no Planalto, de manhã, era de vitória certa. Depois, avaliou-se que faltou acompanhar o processo até o fim. A operação para a retirada dos votos teve a participação da ministra Dilma e do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia. Interlocutores avaliaram que o governo demorou demais para agir.

COLABORARAM: Lydia Medeiros e Cristiane Jungblut

Legenda da foto: OS DEPUTADOS ALBERTO Fraga de costas), Luiz Eduardo Greenhalgh e Arlindo Chinaglia reunidos com os secretários das Mesas do Senado, Raimundo Carrero, e da Câmara, Mozart Viana