Título: DÓLAR CAI MAIS E BC PODE FAZER NOVOS LEILÕES
Autor: Patrícia Duarte/Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 12/11/2005, Economia, p. 31
Moeda completa dez dias consecutivos de queda e fecha a R$2,164, o menor valor do ano
RIO e BRASÍLIA. No dia em que o dólar atingiu a nova mínima do ano - R$2,164, uma queda de 0,23%, a décima consecutiva - o Banco Central (BC) anunciou, em breve nota, após o encerramento dos negócios, que os leilões de swap reverso das quartas-feiras, que foram interrompidos em meados de março, deixarão de ser semanais, "passando a depender das condições de mercado". Na prática, esses leilões funcionam como compras de dólares no mercado futuro, o que ajuda a elevar a cotação. Analistas interpretaram a notícia como uma indicação de que a instituição fará atuações mais freqüentes - ou mesmo diárias - no mercado de câmbio, para conter a queda livre do dólar, que já chega a 18,46% no ano.
A volta dos leilões de swap cambial, que aconteceram entre fevereiro e março deste ano, era esperada pelos investidores, já que as sucessivas compras no mercado à vista pelo BC não têm conseguido frear a forte queda do dólar. Ontem, por exemplo, o BC adquiriu moeda (a R$2,162) e, ainda assim, o dólar ficou próximo à mínima do dia, que foi de R$2,160.
Moeda acumula queda de5,54% em apenas dez dias
Nos últimos dez dias de negócios, a moeda acumulou desvalorização de 5,54%. É o segundo maior período de quedas consecutivas do dólar no ano - o maior, de 11 quedas seguidas, foi entre março e abril deste ano, quando a moeda recuou 5,96%.
- As atuações do BC, no entanto, devem apenas suavizar o movimento de queda do dólar e não reverter a tendência de desvalorização, já que os juros elevados no Brasil e a farta liquidez global continuam pressionando a cotação do dólar para baixo - avalia Caio Megale, economista e sócio da Mauá Investimentos. - Acredito que a nota de hoje (ontem) sinaliza que haverá uma maior atuação do BC no mercado. A exemplo do que ocorreu no início do ano, podemos esperar uma ação coordenada, com dias de leilões à vista e também no mercado futuro.
Ainda assim, Megale espera que o dólar encerre o ano na casa dos R$2,20. Avaliação similar tem Sandra Utsumi, economista do BES Securities. Para ela, embora os leilões de swap aumentem a volatilidade do câmbio - o que pode levar a cotações mais altas - o dólar não deve ultrapassar R$2,50 a médio prazo.
- Talvez não haja mais um cenário que comporte um dólar acima de R$2,50 mesmo no próximo ano. O Brasil está crescendo, é amplo o fluxo de recursos para o país, seja por exportações ou para aplicação em juros, e se houver uma melhora na nota de crédito brasileira pelas agências internacionais de classificação de risco, o dólar deve cair, como ocorreu em outras economias emergentes - explica Utsumi.
Para Megale, da Mauá, já na segunda-feira a cotação do dólar pode ficar mais pressionada, com a especulação em torno da volta dos leilões de swap.
BC já comprou mais deUS$4 bilhões no mercado
Desde que o BC voltou a comprar dólares por meio de leilões no mercado, no início de outubro, já foram gastos mais de US$4 bilhões. De acordo com os dados mais recentes da instituição, entre 3 de outubro e 4 de novembro, a indicação é que a média diária de desembolsos ficou em cerca de US$180 milhões, levando em consideração a cotação média do dólar no período.
Ontem, devido ao feriado do Dia dos Veteranos, nos EUA, não houve negócios com títulos brasileiros no exterior nem cálculo do risco-Brasil. Após a ligeira valorização de 0,19% no dia anterior, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a cair ontem: encerrou em queda de 0,69%, aos 30.510 pontos.
COLABOROU Patrícia Duarte
inclui quadro: o mercado ontem