Título: BIRD DEFENDE REFORMA DO COMÉRCIO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 12/11/2005, Economia, p. 31

Sem barreira agrícola, US$ 300 bi seriam investidos em bem-estar, diz banco

WASHINGTON. A importância de uma reviravolta no comércio de produtos agrícolas acaba de ser medida em valores absolutos pelo Banco Mundial (Bird). Nada menos do que US$300 bilhões serão injetados anualmente no bem-estar de todo o mundo, caso haja um acordo para abolir tarifas, subsídios e programas de apoio doméstico aos produtores e exportadores do setor. A projeção está no estudo "Reforma do Comércio Agrícola e a Agenda de Desenvolvimento de Doha", divulgado ontem em Washington.

Em referências específicas ao Brasil, o documento diz que uma forte redução da pobreza no país pode ser alcançada com o aumento da produção agrícola. Mas, em seguida, ressalta aspectos ainda mais significativos. Diz que a simples melhoria da distribuição de renda "seria mais efetiva para a redução da pobreza do que apenas o crescimento econômico do país".

O trabalho mostra, por outra lado, que devido ao alto índice de desigualdade de renda no Brasil, é possível reduzir de forma significativa a pobreza mesmo sem crescimento econômico. "Bastaria melhorar o índice de distribuição, tornando o nível da desigualdade mais próximo daquele observado num típico país latino-americano".

De acordo com o Bird, é essencial que na rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), sejam derrubadas as barreiras de acesso ao mercado no setor agrícola para melhorar o nível de vida nos países em desenvolvimento. "Profundas reduções nas tarifas agrícolas propiciariam ganhos doze vezes maiores do que os obtidos pela abolição dos subsídios e dos programas de apoio doméstico à agricultura que distorcem o comércio", diz o estudo.

- Tornar mais acessíveis os mercados agrícolas é a reforma mais fundamental que precisa emergir da rodada de negociações de Doha - disse Will Martin, um dos economistas do Bird que comandaram o estudo.

Segundo o trabalho, os países em desenvolvimento receberiam 45% dos benefícios de uma liberação completa de todo o comércio de mercadorias. E como esses países têm uma parcela bem menor do bem-estar social, "o seu potencial de ganhos da liberalização do comércio é desproporcionalmente grande, chegando ao equivalente à mais de duas vezes da parcel que eles têm no produto interno bruto global", diz o Bird.

Os economistas do banco alertam os governos dos países ricos para que não caiam na tentação política de isentar produtos sensíveis e especiais dos cortes de tarifas, pois o resultado disso seria um desastre. "Se apenas 2% das tarifas agrícolas nos países ricos (e 4% nos países em desenvolvimento) forem definidas como sensíveis ou especiais - portanto, sujeitas a um corte de apenas 15% nas tarifas - os ganhos para o bem-estar dos países em desenvolvimento, gerados por uma reforma agrícola global, virtualmente desapareceriam".