Título: GRIPE SE ALASTRA NA CHINA E CHEGA AO KUWAIT
Autor:
Fonte: O Globo, 12/11/2005, Ciência e Vida, p. 39

Na província de Liaoning três surtos de H5N1 são registrados em 24h e ministro diz que situação está fora de controle

PEQUIM. O governo da China informou ontem que a disseminação do letal vírus H5N1 da gripe aviária está fora de controle numa de suas províncias e alertou para um potencial desastre na região. Somente nas últimas 24 horas foram confirmados três novos surtos da doença na província de Liaoning e um novo caso suspeito de infecção humana.

A presença do vírus foi confirmada ontem pela primeira vez no Oriente Médio. O governo do Kuwait informou que um flamingo encontrado morto numa praia estava infectado pelo H5N1. Segundo as autoridades do país, uma outra ave com suspeita de ter contraído o vírus estava, na verdade, contaminada pelo H5N2, mais brando. Um novo caso de infecção em seres humanos foi confirmado ontem na Tailândia. Trata-se de um bebê de 1 ano e meio, que se recupera bem.

No último mês foram registrados seis surtos causados pela linhagem mais letal do vírus na China e o governo reagiu com um abate maciço de aves. Somente para conter o surto mais recente, que vitimou 1.100 galinhas, foram abatidas 670 mil aves domésticas nas áreas afetadas e 116 pessoas foram postas em quarentena.

O ministro da Agricultura da China alertou que o país está a beira de um desastre em razão do uso disseminado de vacinas para aves fora dos padrões ou mesmo falsificadas. Tais substâncias podem mascarar os sintomas do vírus, tornando o controle sanitário mais difícil, ou mesmo disseminar o H5N1.

Testes feitos em quatro pessoas suspeitas de terem contraído a gripe ainda estão em andamento, uma em Liaoning e as outras em Hunan.

O vírus H5N1 já matou 65 pessoas na Ásia e mais de 150 milhões de aves desde 2003. Em sua forma atual, a sua letalidade entre seres humanos é de 50%. Até hoje não houve confirmação de que o H5N1 seja transmissível entre pessoas, mas os especialistas temem que o vírus sofra uma mutação, desencadeando uma pandemia.

Inverno no Hemisfério Norte preocupa autoridades

Um encontro entre especialistas encerrado esta semana em Genebra, na sede da Organização Mundial de Saúde (OMS), apresentou um plano de prevenção a uma possível pandemia global no valor de US$1 bilhão.

A disseminação do vírus para o Oriente Médio, assim como para a África, já era esperada, uma vez que a região faz parte da rota das aves migratórias. De acordo com autoridades, esses pássaros estão disseminando o vírus.

A chegada do inverno - e da temporada de gripe - no Hemisfério Norte também preocupa as autoridades.

Os mecanismos do mal

Estudo explica alta letalidade do vírus

NOVA YORK. Num momento em que o mundo vive sob a ameaça de uma nova pandemia de gripe, cientistas anunciaram ontem ter descoberto por que o H5N1 provoca uma infecção tão letal e por que, preferencialmente, ataca jovens adultos saudáveis. Testes feitos com células humanas revelaram que a gripe aviária provoca a inflamação de proteínas chamadas citoquinas em níveis até dez vezes superiores aos causados pela gripe comum.

Tal processo inflamatório é uma resposta comum do sistema imunológico à infecção. Mas em níveis tão altos quanto os provocados pelo H5N1, ele acaba levando ao agravamento do quadro clínico do paciente. O aumento brutal dos níveis de atividade da proteína provoca séria dificuldade para respirar e contribui para a gravidade da doença, que causa pneumonia e problemas respiratórios graves.

De acordo com os especialistas, a letalidade do H5N1 é maior em adultos jovens justamente porque são as pessoas nessa faixa etária que apresentam a maior capacidade de produção das proteínas.

"O recente ressurgimento do H5N1 em seres humanos causa preocupação e ressalta a necessidade de uma melhor compreensão da doença", escreveram os autores do estudo, coordenado por Michael Chan, da Universidade de Hong Kong. "Tal compreensão nos levará a novas estratégias para o tratamento da doença em seres humanos."

O estudo foi publicado na edição online de novembro da revista "Respiratory Research".

Legenda da foto: UMA MULHER DESCANSA numa granja em Liaoning: pessoas que lidam co