Título: Operação Dresden
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 13/11/2005, O Globo, p. 2

José Dirceu já foi queimado, Palocci começa a arder na fogueira. Na fila do bombardeio, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o subsecretário de Comunicação, Luiz Gushiken. Outros viriam, dentro de um plano detonação em seqüência das figuras de proa do governo, até que o presidente Lula não tenha a menor condição de pensar em disputar a reeleição.

Tal plano é confirmado parcialmente pela oposição e pelo menos um grão-petista que ainda tem conexões com os tucanos ouviu de um deles que este é o rumo. Não haverá trégua ou arrefecimento da crise. As CPIs estão prorrogadas e há muita pólvora para ser queimada. O petista saiu apavorado desta conversa dura, porém, leal e franca. ¿É a operação Dresden¿, resumiu para um companheiro.

A comparação pode ser imperfeita, pois o crime dos habitantes de Dresden foi apenas o de viver na Alemanha de Hitler. O PT cometeu crimes que precisam ser investigados e punidos. No fim da Segunda Guerra, já próxima a vitória dos aliados, Winston Churchill autorizou o bombardeio indiscriminado da cidade. Nas memórias, diz ter-se arrependido. Dos aviões ingleses caíram 1.478 bombas explosivas e 1.182 incendiárias. Os americanos fariam seu espetáculo lançando as fortalezas voadoras e 1.800 bombas. Dresden ardeu em poucas horas, sob um calor de mais de 800 graus centígrados que matou quase toda a população civil.

Uma ¿operação Dresden¿ contra o PT não é apenas para evitar a candidatura de Lula mas para que ¿a raça suma do mapa por uns 30 anos¿, como disse o senador Bornhausen, diz o petista. Mas como nem o PT nem a esquerda devem desaparecer, o saldo pode ser um prolongado acerto de contas, que também seria uma forma de atraso.

¿ Não temos um plano de bombardeio com mero objetivo político. Quem produziu o recrudescimento foi o PT, que resolveu nos atacar no primeiro refresco da crise. O que não é mais possível é contemporizar com ninguém, nem mesmo com o ministro Palocci, pois a ninguém pode ser garantida imunidade diante de indícios fortes, que não estamos fabricando, mas ouvindo de gente como Buratti e Poleto ¿ diz o deputado tucano Eduardo Paes.

E Lula diante disso? Na semana passada, depois de dizer na entrevista ao programa ¿Roda Viva¿ que ainda não decidiu se concorrerá, ele fez uma avaliação com outro importante petista. Até o estouro da crise, teria estado propenso a não disputar. Com a economia indo bem, preferia ficar apenas com os quatro anos. Deixaria como legado as condições para o país crescer continuamente alguns anos e algumas obras físicas importantes. E ainda uma lista de realizações para os mais pobres, na linha do Bolsa Família. Mas a crise, disse ele, vai tornando inevitável a recandidatura. E quando mais espancado, mais obrigado estará a ser candidato, seja para garantir a sobrevivência do PT, seja para travar o combate e defender seu governo na campanha. Admite que será difícil ganhar mas acha que será competitivo. E que por isso mesmo a oposição partiu para a guerra.

Sendo assim, o fogaréu continuará alto até a eleição. No início do ano, a oposição planejaria lançar uma bomba voadora, um pedido de impeachment. Não para consegui-lo, faltando tão pouco tempo para o fim do mandato. Mas para levar Lula à insustentável condição de presidente que disputa o segundo mandato sob o risco de sofrer o impedimento.